Há quatro anos, quando Carlos Moedas roubou a
câmara da capital ao socialista Fernando Medina, o estrondo foi tal que foi
como se o PSD tivesse ganho as autárquicas. Agora, apostado em não deixar fugir
a câmara que ganhou à justa, Moedas vai a votos numa coligação mais alargada,
que, além do CDS, inclui também a Iniciativa Liberal, enquanto o PS, apostado
em recuperar a joia perdida, ensaiou uma grande coligação de esquerda — que
inclui quase todos os partidos (PS, Livre, BE e PAN), menos a CDU (que avança
com João Ferreira). A corrida vai ser, portanto, direita contra esquerda e, a
dois meses das eleições, é a direita que segue na frente, com 30% das intenções
de voto. A coligação liderada por Alexandra Leitão surge com 28% das intenções
de voto, seguindo-se o Chega, com 11%, e a CDU, com 4%.
Intenção de voto em Lisboa, como votaria se as
autárquicas fossem hoje?
Resultados do total da amostra e projeção do resultado eleitoral. A projeção é calculada pela distribuição da intenção de voto após a exclusão dos inquiridos que dizem não votar (12%) e a imputação dos inquiridos indecisos (12%). A diferença para 100% corresponde à intenção de voto em outros partidos (1%), votos em branco e votos nulos (2%).
Carlos Moedas à frente, mas coligação dá hipótese
a Alexandra Leitão
As contas feitas com redistribuição de indecisos
(12% a esta data) dão um pouco de margem mais ao autarca em funções: 41% contra
36%, uma vantagem de 5 pontos, seguidos do Chega (14%) e CDU (5%). Com uma
margem de erro aproximada de 3,5 pontos percentuais, contudo, a sondagem do
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do ISCTE, feita para
o Expresso e a SIC, mostra como a corrida à capital está ainda em aberto: “As
diferenças entre os dois valores não atingem significância estatística”, lê-se
no relatório, numa referência ao facto de os 41% de Moedas poderem recuar para
37,5% e de os 36% da candidata socialista poderem estender-se para 39,5%,
dentro das margens de erro do barómetro. Uma coisa é certa: se não fosse a
coligação de esquerda, Alexandra Leitão não parecia ter qualquer hipótese.
Coligação salva Leitão
O trabalho de campo incluiu 800 entrevistas
válidas, feitas de forma presencial entre os dias 14 e 27 de julho, com
simulação de voto em urna. A coligação entre PS, Livre, BE e PAN apenas foi
anunciada no dia 17, pelo que foram estudadas as duas opções: como votariam os
lisboetas se houvesse coligação de esquerda (sem PCP) e se os partidos
concorressem em separado. Acontece que, sozinho, o PS não passaria dos 22% das
intenções de voto, o que deixaria Alexandra Leitão 8 pontos atrás de Carlos
Moedas, sem quaisquer hipóteses. Nesse cenário, Moedas mantinha os 30%, o Livre
aparecia com 4% (igual à CDU), o BE, que já tinha anunciado a candidata
Carolina Serrão, teria apenas 2% dos votos e o PAN outros 2%. Todos somados, o
PS e a esquerda teriam 30%, apenas mais 2 pontos percentuais do que os 28% das
intenções de voto diretas expressas na coligação de esquerda — o que importa
pouco para efeitos práticos, uma vez que, ao contrário do que acontece nas
eleições legislativas, nas autarquias governa quem vence, não sendo possível
geometrias variáveis.
Eleitores da coligação de esquerda dão mais
“certeza” de irem votar do que os da lista que une a direita
Mais relevante é olhar para os resultados da
candidatura do PCP, de João Ferreira, que recusou integrar a “grande coligação”
de esquerda, ao contrário do que aconteceu em 1989, quando o socialista Jorge
Sampaio negociou com o PCP de Álvaro Cunhal uma inédita aliança que deixou a
capital nas mãos do PS. Agora a história podia repetir-se se os comunistas
tivessem entrado no barco. Ou, pelo menos, Carlos Moedas estaria muito mais
ameaçado: olhando para as intenções diretas de voto, a candidatura de Alexandra
Leitão teria 32% dos votos (se somasse aos seus 28% os 4% dos votos
comunistas), o que a deixava à frente da coligação de direita de Carlos Moedas
(30%). Numa extrapolação para as intenções de voto com distribuição de
indecisos, se os votos do PCP fossem somados aos da coligação de esquerda,
Moedas e Leitão apareceriam na fotografia num empate rigoroso, com 41% dos
votos cada.
Esquerda mais mobilizada
Com leituras algo contraditórias — os inquiridos
dizem que a cidade está “pior”, mas Moedas tem avaliação positiva e destaca-se
da adversária em todos os parâmetros —, o atual presidente da câmara aparece
como favorito, numa eleição que, em todo o caso, continua em aberto. Contra
Moedas parece estar apenas um detalhe: o eleitorado anti-Moedas aparece mais
mobilizado, com 84% dos eleitores de Alexandra Leitão a darem a “certeza” de
que vão votar e 88% do eleitorado da CDU a manifestar a mesma intenção. À direita
a certeza não é tão absoluta, com a fasquia a cair para a casa dos 77%. Ainda
há dois meses e meio para mobilizar quem falta.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo trabalho de campo decorreu entre os dias 14 e 27 de julho de 2025. Foi coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O universo da sondagem é constituído por indivíduos, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, recenseados nas freguesias do concelho de Lisboa. Os respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa matriz que cruza as variáveis sexo e idade (4 grupos). A partir de uma matriz inicial baseada na distribuição da população eleitora pelas 24 freguesias do concelho de Lisboa com base nos dados do recenseamento eleitoral (MAI, 31 de dezembro de 2024), foram selecionados aleatoriamente 91 pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a intenção de voto recolhida recorrendo a simulação de voto em urna. Foram contactados 2088 lares elegíveis (com membros do agregado pertencentes ao universo) e obtidas 800 entrevistas válidas (taxa de resposta de 38%; taxa de cooperação de 50%). O trabalho de campo foi realizado por 31 entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo. A margem de erro máxima associada a uma amostra aleatória simples de 800 inquiridos é de +/- 3,5%, com um nível de confiança de 95%. Nos gráficos seguintes, todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma ser diferente de 100% (Expresso, texto dos jornalistas Rita Dinis e Jaime Figueiredo)
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