Barroso acaba de levar hoje um tremendo soco no estomago: O Presidente
francês, François Hollande, condenou hoje como "moralmente
inaceitável" o emprego do ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso
no banco Goldman Sachs.
François Hollande sublinhou que "juridicamente é possível, mas
moralmente é inaceitável",
recordando que Barroso "foi presidente [da Comissão Europeia] durante
dez anos", quando se deu a crise do mercado imobiliário subprime, na qual
o Goldman Sachs foi "uma das entidades principais". O chefe de Estado
francês referiu ainda que o banco norte-americano "aconselhava os gregos
sobre como esconder os números" das suas finanças para poderem aderir ao
euro, a moeda única da União Europeia, com as consequências que isso veio a
ter.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault,
defendeu que Barroso tem de renunciar ao emprego ou irá reforçar "o
populismo" e o cepticismo em relação à Europa. "Deve [renunciar], é
uma questão de ética, de moral", declarou numa entrevista à emissora
Europe 1. Para ele esta estranhíssima e potencialmente passível de investigação
judicial contratação de Barroso é "totalmente chocante".
Durão Barroso é acusado de ter feito "a cama dos
antieuropeus", multiplicando-se aqueles que acham que esta vergonhosa
contratação de Barroso é "particularmente escandalosa, tendo em conta o
papel desempenhado pelo Goldman Sachs durante a crise financeira de 2008, mas
também o papel na camuflagem das contas públicas da Grécia".
O chamado banco(?) Goldman Sachs está
associado a muitas páginas negras da crise financeira e capitalista no mundo.
Foi actor mafioso da crise do subprime que em 23007 rebentou nos EUA e se
alastrou pela Europa e o mundo. É uma organização considerada mafiosa que tenta
manipular governos e governantes e controlar os processos de decisão desses
governos.
Não é por acaso que o Goldman Sachs é
associado ao processo de manipulação da dívida na Grécia e ao escândalo de
ocultação dos dados, facto que viria a estar na origem do resgate grego.
Barroso, melhor do que ninguém, sabia disto tudo. O que questiona a sua
decisão, apoiada por Passos - este idiota não vê incompatibilidades em lado
nenhum, nem na vergonhosa contratação da ex-ministra das finanças por uma entidade
financeira inglesa nem da bandalha ida do seu antigo sopeiro Vítor Gaspar para
o FMI, depois de ter andado dois anos a lidar com eles e a tratar dos interesses
do FMI em Portugal - e pela Alemanha e seus paus-mandados (Áustria).
Mais grave do que isso é que se pode colocar
em cima da mesa uma pergunta tão simples, quão polémica e "mortal":
afinal que favores, que fretes, que ajudas deu Barroso, enquanto Presidente da
Comissão, ao Goldman Sachs? Porventura justifica-se uma investigação judicial
europeia a todas as decisões tomadas pela Comissão Europeia de Barroso e que
tenham envolvido, directa ou indirectamente, aquele banco(?) mafioso?
Não é caso novo, são muitos os governantes
e outros dirigentes que funcionaram ao contrário, saíram do Goldman Sachs para
funções públicas. Este banco (?) é conhecido como uma espécie de "escola
que permite a muitos economistas e gestores atinjam cargos de poder um pouco
por todo o mundo".
Casos de Hank Paulson, antigo secretário de
Estado do Tesouro dos EUA, Mario Draghi, presidente do BCE, Mark Carney,
governador do Banco Central do Canadá, Romano Prodi, antigo presidente da
comissão europeia, Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, Robert Rubin,
antigo Secretário de Estado do Tesouro dos EUA, Ducan Niederauer, presidente da
NYSE Euronext, Mark Patterson, antigo Chefe de Staff do Tesouro dos EUA,
António Borges, director do Departamento Europeu do FMI, Carlos Moedas, antigo
Secretário de Estado de Passos premiado com o tacho de Comissário Europeu,
António Horta Osório, presidente do Lloyds Bank, William C. Dudley, antigo
presidente da Fed de Nova Iorque, José Luis Arnaut ex-ministro do PSD e
"partner" português envolvido no empréstimo do Goldman ao BES, etc.
Lembro o caso de um empréstimo de 752,5
milhões de euros, montado pelo Goldman Sachs e concedido ao BES semanas antes
do colapso!
Numa entrevista à estação de rádio francesa
Europe 1, o actual Comissário Europeu Moscovici admitiu que apesar de "não
estar proibido", o ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso
deveria ter feito uma "reflexão política, ética e pessoal" sobre os
efeitos da contratação pelo banco Goldman Sachs.
É sabido que o banco(?) Goldman Sachs
decidiu pagar em 2015 um total de 5,08 mil milhões de dólares (4,68 mil milhões
de euros) para encerrar um processo instaurado pelas autoridades por venda de
produtos designados tóxicos causadores da crise financeira de 2008 com o Lehman
Brothers.
A filha de Bill e Hilary Clinton, é casada
com um antigo quadro do Goldman Sachs - que coincidência... - que juntamente
com outros dois colegas criou duas empresas acusadas de terem burlado
investidores em valores da ordem dos 40 milhões de euros.
Vários políticos franceses consideraram que
o novo cargo do antigo presidente da Comissão Europeia é uma "indecência",
além de existir um "conflito de interesses". "Servir os cidadãos
para se servir da Goldman Sachs: Barroso representante indecente de uma velha
Europa que a nossa geração vai mudar", escreveu no Twitter o secretário do
Comércio francês, Matthias Fekl. Tal como o responsável governamental
socialista francês, os eurodeputados do PS de França consideraram que há um
"escandaloso conflito de interesses". "Exigimos a revisão das
regras para evitar o recrutamento de antigos comissários europeus",
referiram, em comunicado, os eurodeputados do PS francês, escreve a revista
Sábado.
Li há dias numa revista nacional que
"no livro O Banco - Como a Goldman Sachs Dirige o Mundo, que ganhou um
prémio de melhor livro de economia em 2010 e está nos tops nacionais desde que
foi lançado em Portugal, em Maio, Marc Roche, jornalista do Le Monde, acusa a
instituição de ter causado a crise europeia - terá sido o Goldman Sachs que
ajudou a Grécia a esconder parte das suas dívidas para conseguir entrar no
euro, em 2001".
A ida de Barroso, atraído pelo ordenado que
lhe foi prometido - fala-se em 5 milhões de euros anuais - já que nenhuma
experiência bancária teve na vida, aliás nem qualquer actividade empresarial
digna de realce se lhe conhece, coloca em cima da mesa a promiscuidade entre
política e finança, ao mais alto nível da política europeia e comunitária, as
patifarias entre o capitalismo e as instituições como a Comissão Europeia.
Não se trata de questionar a ida de Barroso
para o Goldman Sachs. Trata-se de saber o que levou o antigo Presidente da
Comissão Europeia a ir para uma organização financeira mafiosa. Ou melhor, o
que é que levou o Goldman Sachs a convidar Barroso e não qualquer outro
político.
Termino citando a jornalista Barbara Reis
do Público:
“1. É uma má ideia porque o Goldman Sachs não é um
banco qualquer. É o gigante da banca de investimento que mais directamente pode
ser responsabilizado pela sobrevalorização dos activos e permanente fuga para a
frente que nos levou à crise, e que foi durante anos apresentado como o banco
capaz de “maquilhar contas públicas”. É acusado de o ter feito para a Grécia.
Quando chegou a São Bento, o próprio Barroso terá sido aconselhado por Silvio
Berlusconi a usar esses “serviços” (que ignorou). É um banco com um braço
político, que aconselhou empresas e Estados (e mal). É mais do que um banco com
má reputação.
2. É má ideia porque
Barroso sabe que os 18 meses de cooling-off — ou luto — impostos pela União
Europeia (que Barroso cumpriu) já são considerados insuficientes. A tendência é
impôr intervalos cada vez mais longos — no Canadá exigem-se cinco anos para os
ministros. A prática mostra que quanto mais rápida é a passagem pela
"porta giratória” que separa o público do privado, mais provável é o
ex-governante influenciar os processos de decisão em benefício do novo patrão.
Daqui a cinco anos, a agenda de contactos de Barroso não seria muito útil ao
Goldman Sachs.
3. É uma má ideia porque,
sendo legítimo prosseguir a vida profissional depois de deixar um cargo de
poder, há muitas formas de os ex-líderes se reinventarem. Como as fundações, os
think tanks, a academia ou as Nações Unidos. Não é preciso ser-se secretário-geral
da ONU. Jorge Sampaio tinha 66 anos quando saiu de Belém e foi nomeado Enviado
Especial da ONU para a Luta contra a Tuberculose e a seguir Alto Representante
para a Aliança das Civilizações. Barroso não é o primeiro ex-presidente da
Comissão Europeia a ir para a banca (houve três), mas é o único a fazê-lo
directamente.
4. É má ideia porque,
sendo legítimo querer ganhar muito bem, há inúmeras opções clássicas e
indolores. Uma delas é a “carreira” das conferências. Hillary Clinton recebeu
do Goldman Sachs 675 mil euros por apenas três discursos. Juntos, Hillary e o
marido, o ex-Presidente dos EUA, ganharam 153 milhões de dólares nos últimos 15
anos só com discursos: fizeram 729. Num único, Bill Clinton recebeu meio milhão
de dólares, noticiou há uns meses o Wall Street Journal. Barroso está noutro
patamar de honorários e não teria dez anos de convites à sua frente. Mas
beneficia — e bem — de uma pensão confortável paga pela União Europeia e esse
seria um cooling-off inatacável sob o ponto de vista ético.
5. Catarina Martins diz
que a decisão “envergonha o país”, mas isso não é verdade. Quando muito,
envergonha-o a si próprio. Esta é uma questão de ética individual e é má ideia
também por isso.
6. É má ideia porque uma
“transferência milionária” e directa como esta destrói o romantismo que ainda
possa subsistir quando olhamos para os líderes europeus como políticos que
defendem a coisa pública e a força europeia acima de qualquer outro interesse
ou valor.
7. É má ideia porque
revela uma enorme insensibilidade política. Não se pede a Barroso que se
sacrifique pela Europa, mas era escusado ser o próprio "senhor
Europa" a contribuir para prejudicar (ainda mais) a imagem da União.
8. É má ideia porque, se
não podemos ficar reféns do que Marine Le Pen e os populistas anti-europeus
pensam, não é querer muito pedir que quem liderou a Comissão Europeia durante
dez anos prossiga o seu caminho de forma coerente, em defesa da Europa. Não é
difícil pensar em traição do ideal europeu, por místico que isso possa soar.
9. É má ideia porque é
uma utopia acreditar que, como chairman, Barroso vai “moralizar” ou “melhorar”
o Goldman Sachs e a banca de investimentos. Barroso vai ajudar o banco a “dar
uma palavrinha” aos líderes de todo o mundo, do modo informal que nestas coisas
sabemos ser o preferido de todos — e provavelmente o mais eficaz.
10. Durão Barroso não
violou nenhuma regra. A sua decisão expõe no entanto, de forma flagrante, a
necessidade de as regras mudarem. Essa é a única boa notícia desta notícia”.
Tudo isto mete nojo e questiona
a seriedade dos dirigentes europeus e das instituções onde são colocados alguns
oportunistas que alimentam uma corja de bandalhos que não sendo eleitos, estão
a dar cabo da Europa. É o primado da vilanagem numa Europa refém de interesses,
der máfias, de jogos,de ambições pessoais, de poder, de dinheiro, etc. É uma
Europa a pedir lixo, é uma Europa a pedir destruição total para que seja possível
renascer das cinzas e do estrume em que mergulhou, um renascimento assente
nos valores e princípios dos fundadores do projecto europeu (LFM)
É por essas e por outras que convém não arranjar dívidas.
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