O
político e historiador Pacheco Pereira considerou que o jornalismo
económico que se faz em Portugal é dominado pelo "pensamento único"
em termos de políticas económicas e de notícias sobre empresas e desvaloriza
temas importantes. Segundo José Pacheco Pereira, apesar de haver artigos e
comentadores com visões económicas distintas, como a coluna de opinião do ex-ministro
das Finanças grego Yanis Varoufakis no Diário de Notícias, pratica-se um
"jornalismo ‘mainstream'" (corrente principal) dominando por um
"pensamento único" que se relaciona directamente com o contexto
político.
"O
jornalismo económico quase não tem hoje linhas sobre as condições de trabalho,
os jornalistas fazem sobretudo notícias sobre empresas e sobre empresas
inovadoras - em que nunca vão ver como estão um ano depois - e uma parte
importante do que é Portugal é cego para comunicação social", disse o
comentador político e antigo deputado do PSD numa conferência organizada em
Lisboa pela TSF sobre a comunicação social, a propósito da passagem dos 28 anos
sobre a criação desta rádio por Emídio Rangel. Neste
evento participou ainda o presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação
Social (ERC), Carlos Magno, que deixou também críticas ao jornalismo,
considerando que hoje "confunde-se parlamentarismo com diversidade",
que a diversidade fica garantida por terem espaço na comunicação social os grupos
com assento parlamentar. Já Daniel Proença de Carvalho, advogado e presidente
do Conselho de Administração do grupo de comunicação social Global Media (detém
o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e a TSF) disse não ter uma "visão
tão pessimista", mas afirmou ainda assim que a ideia do "pensamento
único tem alguma razão", considerando ser, no entanto, "reflexo da
globalização, após a queda do muro de Berlim, e do pensamento único ter tomado
conta da informação em geral". Pacheco
Pereira discordou, afirmando que Estados Unidos e outros países lidam de forma
distinta com problemas económicos e que isso é visível mesmo em jornais financeiros
como o Financial Times. O comentador político ligou mesmo o fenómeno que
identificou no jornalismo à "experiência social" que os jornalistas
partilham, sobretudo os que vivem e trabalham em Lisboa, e que lhes cria pouca
empatia para "compreender outras realidades".
"Enquanto
a manifestação do ‘Que se lixe a Troika!' foi tratada de forma positiva [a
comunicação social], as manifestações da CGTP que representam outro mundo - os
que trabalham em fábricas, os reformados - já não criam tanta empatia" no
noticiário, declarou, acrescentando que muitas vezes o jornalista procura
"o boçal", como a típica frase "meteram-me no autocarro e
trouxeram-me cá" (Económico)
Sem comentários:
Enviar um comentário