domingo, maio 03, 2015

Dia da Mãe

Partiste cedo demais e eu nada pude fazer para o evitar.
Ficaram as memórias ténues de um tempo breve.
Partiste cedo demais, e sou forçado a perdoar-te a ausência, quando tudo obrigaria a que ainda aqui estivesses.
Para veres tudo o que veio depois, para viveres esse tempo novo que não pudeste viver.
Lá longe onde estiveres, que tenhas a paz como tua companhia.
Olha por mim, sempre, como tens feito. Não saias do meu lado. Mesmo que não dê pela tua presença.
***
Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade, poeta brasileiro

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