“I. A campanha eleitoral que se iniciou
domingo oficialmente mas que ontem arrancou no terreno ficou marcada por duas
situações concretas:
- a divulgação
de uma sondagem num jornal local e todas as interpretações e análise feitas em
torno desta iniciativa;
- a estranha
ausência de resultados oficiais do recenseamento eleitoral na Madeira, quando é
suposto que tais indicadores já deviam estar divulgados, até porque o
recenseamento eleitoral ficou suspenso na Madeira a partir do momento em que o
Presidente da República convocou eleições regionais antecipadas.
Vamos a fatos.
Comecemos pelo
segundo daqueles itens. De facto é estranho - pelo menos era isso que ocorria
no momento em que escrevo este texto - que a DGAI não tenha divulgado em tempo
útil os valores totais do recenseamento eleitoral na Madeira para que se tenha
a noção da dimensão do universo eleitoral em cada concelho e/ou freguesia. Os
partidos políticos, embora não condicionados a isso, costumam usar estes
indicadores eleitorais para definirem alguns aspetos da sua própria campanha
eleitoral no terreno, particularmente na última semana.
Na última
consulta feita ao site institucional
do MAI constatei que dele constam todos os resultados do recenseamento
eleitoral menos o de 2015, reportado às eleições regionais. Admito que exista
alguma falha - mais uma - de organismos de Lisboa que muitas vezes revelam
algum desconhecimento e desvalorizam a realização de eleições regionais. Basta
ver o que acontece quando os estudantes madeirenses residentes no Continente
pretendem votar para nestes atos eleitorais. O modelo adotado, a burocracia
patética subjacente ao sistema e tudo o que gira à volta de um procedimento
demasiado dificultado, fazem com que os estudantes nem percam tempo. Não vale a
pena.
Estranho que
nenhum partido tenha até ao momento manifestado surpresa pelo facto de que a
duas semanas das eleições regionais desconhecermos oficialmente os valores do
recenseamento eleitoral para as regionais antecipadas de 29 de Março. Curioso e
estranho desinteresse.
II. O CDS, pelas reações à sondagem, parece
ter dificuldade em perceber que os resultados eleitorais de 2011, no caso deste
partido, foram uma exceção que dificilmente se repetirá. A 29 de Março
falaremos sobre isto, caso queiram. O problema hoje, em Março de 2015, é saber
se o PSD da Madeira consegue recuperar este ano a totalidade do eleitorado que
perdeu porque "deslizou" para o CDS (pelo menos 12 mil eleitores),
dando aos centristas os 9 deputados que hoje desfrutam, ou se, pelo contrário,
conseguirá apenas perder parte desde eleitorado.
Mas há outros
problemas adicionais, estranhamente desvalorizados ou "ignorados".
O CDS regional
não sabe, enquanto apoiante do movimento JPP, qual a dimensão dos estragos que
este agora partido provocará, já que muita da base eleitoral de apoio do
movimento autárquico supostamente identificar-se-á com o PS, CDS, PTP, PND,
Bloco e MPT entre outros. A sondagem publicada no fim-de-semana mostra que o
JPP poderá conseguir segurar o seu eleitorado próprio - que eu fixaria entre os
3.500 e os 4.000 eleitores - e que, ao contrário do que os partidos apoiantes do
JPP nas autárquicas desejam, também é bem capaz de conseguir manter muitos dos
eleitores dos partidos que foram apoiantes do movimento nas autárquicas.
Os resultados
eleitorais de 29 de Março confirmarão esta minha convicção. A não ser assim,
então teremos mais um "enigma", o de saber como é que o JPP, sem o
voto dos eleitores dos outros partidos (em Santa Cruz) consegue os 4 deputados
que a sondagem lhe projetou, mesmo sabendo-se que concorre a uma dimensão não
concelhia mas sim regional.
Neste quadro, o
próprio PSD está obrigado a ter que dar muita atenção a este assunto - já que
dele pode depender a pretendida maioria absoluta – na medida em que julgo que
os partidos da coligação socialista "Mudança" já perceberam que podem
perder a face e não ir além da totalidade dos mandatos que juntos hoje já têm
no parlamento regional, por causa do que acontecer em Santa Cruz.
É simples entender isso. Nas regionais de 2011 os
quatro partidos da coligação liderada pelo PS totalizaram 5.375 votos (de fora
ficam o CDS que obteve 4.565 votos, o PND com 843 votos e o Bloco com 447
votos) que corresponderam a cerca de 39% dos votos do movimento JPP nas
autárquicas de 2013. Contabilizando as votações do CDS, do Bloco e do PND os
partidos apoiantes do JPP representaram em 2013, cerca de 80,7% da votação para
a Câmara Municipal. Pela minha análise o movimento JPP, que conseguiu nas autárquicas
de 2013 cerca de 13.886 votos, também retirou votos ao PSD - por razões que não
vou agora desenvolver. Acresce - como curiosidade - que o PSD entre as
regionais de 2011 de as autárquicas de 2013 perdeu quase 5 mil votos.
Mais: nas autárquicas de 2013 a abstenção totalizou
42,5% contra 38,1% nas regionais de 2011. Sintomático!
Continuo a pensar que Santa Cruz, devido a todo este
estranho "puzzle", poderá ser o concelho-chave do resultado eleitoral
de muitos partidos na Região, podendo vir a ter uma enorme palavra a dizer na
concretização do desejo de maioria absoluta assumida pelo PSD de Miguel
Albuquerque. Mas há partidos mais pequenos, como o PCP, Bloco e PND, que
precisam de manter o seu eleitorado neste concelho, sob pena dos objetivos
eleitorais poderem ser postos em causa. A coligação socialista tem quase 5.400
votos em jogo.
III. Parece-me evidente que ao admitir a
possibilidade de que 7 dos 11 partidos e/ou coligações concorrentes às
regionais de 29 de Março poderem ter representação parlamentar - curiosamente o
PND aparece na sondagem na fronteira da eleição o que deve deixar de constituir
um elemento de reflexão para dirigentes e candidatos deste partido - isso significa
que podemos estar a caminhar para uma situação complexa em termos de futuros
ajustes (e acordos) parlamentares o que reforça a necessidade do perfil do
futuro Presidente da Assembleia ter que ter eventualmente experiência política
e parlamentar.
Se se confirmar essa ideia teremos uma vez mais na
Madeira o parlamento mais democrático, aquele que mais forças políticas
comporta. Lembro que este momento temos 8 partidos representados: PSD, CDS, PS,
PTP, PCP, PND, PAN e MPT. A sondagem contabiliza a coligação dos socialistas
como um único partido, mas a verdade é que deverão ser eleitos (?) deputados do
PS, PTP, PAN e MPT aos quais se juntam PSD, CDS, PCP, JPP (novidade) e
provavelmente Bloco (regresso) e PND. Teríamos assim 10 partidos. E valha-nos o
facto de o PDR não concorrer, pois não me repugna nada admitir que, se o
fizesse, e a reboque da presença de Marinho e Pinto na Madeira em campanha
eleitoral, poderia eleger 1 ou mesmo 2 deputados, provavelmente à custa do PSD,
CDS e/ou PS (LFM/JM)