Li no
Expresso, num texto da jornalista Alexandre Costa quer “uma semana depois da
performance em que passeou pelas ruas da capital do Afeganistão com um
corpete-armadura de metal, a artista iraniana Kubra Khademi, de 27 anos, ainda
não pôde regressar à sua casa naquela cidade, pois as ameaças de morte não
param. Kubra Khademi diz que tinha consciência de que a sua ação iria causar
algumas reacções, mas esperava que a tensão atenuasse passado alguns dias. Em
vez disso, as ameaças, que tem recebido por telefone e email, estão a aumentar
de dia para dia, alimentadas pelo impacto da sua performance nas redes sociais
e posterior destaque nos mass media. A ação durou cerca de oito minutos,
durante os quais atravessou as movimentadas ruas do distrito de Kote Sangi, no
leste de Cabul, trajando um corpete de metal, que evidenciava a forma dos seus
seios e do rabo e que simultaneamente funcionava como armadura protetora. Depressa
ficou rodeada de homens que a perseguiram, insultaram e apedrejaram. A artista
afirma que o traje cumpriu a sua função, até porque não sentiu nada quando a
tentaram apalpar. Quando, passado uns 8 minutos, entrou para o carro de um
amigo que a esperava, alguns homens subiram mesmo para cima da viatura
expressando a sua revolta e desagrado. Fotografias e vídeos da performance têm
sido difundidas pelas redes sociais
"Não
uso palavras, eu uso o meu corpo"
Apesar de
a ação ir no sentido da defesa dos direitos das mulheres, Kubra Khademi diz que
não se tratou de uma forma de ativismo, apenas uma performance artística. "Foi
uma performance. Eu não sou uma ativista, eu sou uma artista (...) As minhas
preocupações no meu trabalho derivam da minha vida pessoal, da minha própria
experiência... mas eu não uso palavras, eu uso o meu corpo e o meu espaço e tempo",
declara ao "The Guardian". À televisão Al Jazeera, Khademi refere que
a performance foi inspirada na experiência que teve quando foi molestada na rua
por um estranho pela primeira vez - teria apenas uns 4 anos de idade e desejou
ter roupa interior de ferro. A escolha do distrito de Kote Sangi também não foi
casual. Em 2008, quando era uma estudante recém-chegada à cidade, foi assediada
e ficou ainda mais em choque quando, após ter começado a reclamar aos gritos,
as pessoas em redor não só não a auxiliaram como começaram a recriminá-la.
"Eu
não vou parar"
Nas
anteriores performances, abordou as suas vivências como refugiada, que teve de
se mudar do Irão com os pais para o Paquistão, onde ganhou uma bolsa para
estudar belas-artes. "O que me está acontecer agora é a realidade da minha
sociedade", refere à BBC, a partir do local onde ainda permanece
escondida. Mas, apesar dos riscos que corre, acrescenta que não está
arrependida: "Eu não posso mudar isso imediatamente. OK. Vocês estão zangados,
mais isto é o modo como eu trabalho e eu não vou parar".