sábado, agosto 23, 2014

Henry Kissinger queria golpe de Estado de direita em 1975

Li aqui que "o ex-secretário de Estado norte-americano Henry  Kissinger não era assim "tão contra" um golpe de estado de direita em Portugal  durante o processo revolucionário de 1975 e admitiu fornecer armas ao "grupo  dos Nove". Estas são revelações feitas, 40 anos após o 25 de Abril de 1974, em  documentos do Departamento de Estado até agora considerados "secretos" e  publicados no volume do departamento histórico do Departamento de Estado  sobre a política externa norte-americana, referente aos anos de 1969-1977  (Foreign Relations of the United States -- Volume E-15, part II).  A reunião decorreu a 12 de agosto de 1975, entre Kissinger, o embaixador  dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, e vários membros do Departamento de Estado,  em Washington, incluindo William Hyland, diretor do Departamento de Informações  e Pesquisa do Departamento de Estado. Já passara mais de um ano sobre o golpe que derrubou a ditadura, a 25  de Abril, e o Governo de Lisboa era liderado por Vasco Gonçalves, o "inimigo  número um" dos EUA. Carlucci e Hyland concluíram que o maior risco para  os objetivos norte-americanos eram António de Spínola, o primeiro presidente  pós-25 de Abril e que liderou o 11 de março, e a extrema-direita.Nessa altura, Henry Kissinger, chefe da diplomacia dos presidentes Richard  Nixon e Gerald Ford, disse algo que, admitiu, poderia chocar os seus "colegas". "Não sou assim tão contra um golpe desse tipo [de direita], por muito  chocante que seja para os meus colegas...", lê-se na ata da reunião de agosto  de 1975, em que se discutiram as hipóteses de êxito de um Carlucci opôs-se, tal como já se opusera à tese da vacina: Kissinger  aceitaria "perder" Portugal para os comunistas, apoiados pela União Soviética,  e tal funcionaria como "vacina" para Espanha ou Itália. O diplomata defendeu,  isso sim, o apoio dos EUA aos "moderados", incluindo o PS de Mário Soares. "Não, também não sou contra um golpe, se resultasse. Mas se Spínola  o tentar, não vai resultar. [Melo] Antunes [do Grupo dos Nove] pode ser  um líder no momento seguinte, Spínola não. Ele é, na minha opinião, um homem  muito perigoso", afirmou Carlucci. Spínola, durante o seu exílio após a tentativa falhada de golpe do 11  de março de 1975, fundou o Movimento Democrático de Libertação de Portugal  (MDLP), tentou apoios em França e no Brasil para um movimento militar e  popular que derrubasse o Governo liderado por Vasco Gonçalves e apoiado  pelo PCP. Kissinger disse que, naquela altura, os EUA não tinham qualquer relação  com Spínola. Carlucci duvidou, dado que lera um relatório da CIA sobre a  América Latina e que indicava "algum tipo de contacto" com o general.É também na reunião de 12 de agosto no Departamento de Estado, em Washington,  que Kissinger e Carlucci falam abertamente de uma guerra civil em Portugal  e da possibilidade de fornecer armas a personalidades relacionadas ou com  Mário Soares ou do Grupo dos Nove.  Neste ambiente, político e militar, Carlucci recebeu luz verde para  os Estados Unidos "examinar o pedido" de fornecimento de armas desde que  fosse legítimo. "E se, no seu julgamento, os pedidos forem feitos por elementos responsáveis",  explicou Henry Kissinger. E Carlucci revelou ter sido contacto por pessoas  que não eram nem ligadas a Soares nem ao PS nem aos militares "moderados". Não há, nestes documentos desclassificados, elementos sobre se foram  entregues armas pelos Estados Unidos e a quem".