quarta-feira, março 26, 2014

18,7% em risco de pobreza em 2012



O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (EU-SILC), realizado em 2013 sobre rendimentos do ano anterior, indica que 18,7% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2012, mais 0,8 p.p. do que em 2011 (17,9%). A taxa de risco de pobreza das famílias com crianças dependentes foi de 22,2% em 2012, aumentando novamente a desvantagem relativa face ao valor para o total da população residente. As taxas de risco de pobreza mais elevadas foram estimadas para os agregados constituídos por um adulto com pelo menos uma criança dependente (33,6%), por dois adultos com três ou mais crianças (40,4%) e por 3 ou mais adultos com crianças (23,7%), que ao longo da série enfrentam pela primeira vez um risco de pobreza superior ao das pessoas que vivem sós (21,7%). O risco de pobreza para a população em situação de desemprego foi de 40,2% em 2012, com um aumento de 1,9 p.p. face ao ano anterior, e a proporção da população com menos de 60 anos que vivia em agregados familiares com intensidade laboral per capita muito reduzida aumentou 2,0 p.p., de 10,1% para 12,2% em 2012. A assimetria na distribuição dos rendimentos entre os grupos da população com maiores e menores recursos manteve a tendência de crescimento verificada nos últimos anos.

18,7% da população em risco de pobreza em 2012

O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (EUSILC), realizado anualmente junto das famílias residentes em Portugal, indica que 18,7% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2012, valor superior em 0,8 p.p. face ao ano anterior (17,9%) e o mais elevado desde 2005. De acordo com este inquérito, a mediana do rendimento monetário líquido por adulto equivalente registou um decréscimo nominal de 1,8% entre 2011 e 2012. Consequentemente, o limiar, ou linha de pobreza relativa (que corresponde a 60% da mediana da distribuição dos rendimentos monetários líquidos equivalentes) reduziu-se de 4 994 euros para 4 904 euros, ou seja, de 416 euros para 409 euros em termos mensais.

Aumentou o risco de pobreza das/os menores de 18 anos

Acentuou-se a tendência de crescimento da taxa de risco de pobreza para as/os menores de 18 anos que, em 2012, foi superior em 2,6 p.p. ao valor registado em 2011 (24,4% face a 21,8%). No mesmo período, o risco de pobreza para a população em idade ativa foi de 18,4%, 1,5 p.p. mais do que o valor relativo a 2011 (16,9%). Ao contrário, a taxa de risco de pobreza para a população idosa, 14,7%, manteve a tendência decrescente observada na série para este indicador desde 2003 (menos 14,2 p.p. desde o início da série), expectável face ao crescimento médio das despesas com pensões de velhice per capita que tem vindo a verificar-se desde o início do século (7%), e em parte devido à melhoria relativa em 2012 das pessoas com rendimentos por adulto equivalente ligeiramente inferiores ao limiar de pobreza no ano anterior.

O risco de pobreza para a população em situação de desemprego aumentou 1,9 p.p. em 2012

O risco de pobreza para a população em situação de desemprego foi de 40,2% em 2012, significando um aumento de 1,9 p.p. face ao ano anterior. No mesmo período, o risco de pobreza registou um aumento de 0,6 p.p. para a população empregada (10,5% em 2012), e uma diminuição de 3,1 p.p. para a população reformada (12,8% em 2012).

Risco de pobreza para as famílias com crianças dependentes superior em 3,5 p.p. ao estimado para a população em geral

Em 2012, o risco de pobreza dos agregados sem crianças dependentes, 15,0%, diminuiu ligeiramente, relativamente ao valor do ano anterior (15,2%), e aumentou a vantagem face ao registado para o total da população residente (menos 3,7 p.p. face a 18,7%). Ao contrário, a taxa de risco de pobreza das famílias com crianças dependentes registou um aumento de 1,7 p.p., com 22,2% em 2012 face a 20,5% em 2011, aumentando a desvantagem relativa, mais 3,5 p.p., face ao valor para o total da população residente. As taxas de risco de pobreza mais elevadas foram estimadas para os agregados constituídos por um adulto com pelo menos uma criança dependente (33,6%), por dois adultos com três ou mais crianças (40,4%) e por 3 ou mais adultos com crianças (23,7%), que ao longo da série enfrentam pela primeira vez um risco de pobreza superior ao das pessoas que vivem sós (21,7%). Tal como nos anos anteriores, os agregados constituídos por três ou mais adultos sem crianças dependentes apresentam a taxa de risco de pobreza mais baixa, 12,0%.

Reduziu-se ligeiramente o impacto das transferências sociais (excluindo pensões) no risco de pobreza

Considerando apenas os rendimentos do trabalho, de capital e transferências privadas, 46,9% da população residente em Portugal estaria em risco de pobreza em 2012. Os rendimentos provenientes de pensões de reforma e sobrevivência contribuíram em 2012 para um decréscimo de 21,3 p.p. (20,2 p.p. em 2011), resultando uma taxa de risco de pobreza após pensões e antes de transferências sociais de 25,6%.  Globalmente, o contributo das transferências sociais, relacionadas com a doença e incapacidade, família, desemprego e inclusão social para a redução do risco de pobreza em 2012 foi inferior ao observado no ano anterior (6,8 p.p. face a 7,3 p.p.).

A intensidade da pobreza aumentou em 3,3 p.p.

A taxa de intensidade da pobreza, que mede em termos percentuais a insuficiência de recursos da população em risco de pobreza, foi de 27,3% em 2012, registando-se um agravamento de 3,3 p.p. face ao défice de recursos registado em 2011 (24,1%).

Mantém-se uma forte desigualdade na distribuição dos rendimentos

O Coeficiente de Gini tem em conta toda a distribuição dos rendimentos, refletindo as diferenças de rendimentos entre todos os grupos populacionais, e não apenas os de menores e maiores recursos. Em 2012, este indicador registou um valor de 34,2%, ligeiramente inferior ao verificado em 2011 (34,5%). Ao contrário, a assimetria na distribuição dos rendimentos entre os grupos da população com maiores e menores recursos manteve a tendência de crescimento verificada nos últimos anos. O rácio S80/S20, que mede a distância entre o rendimento monetário líquido equivalente dos 20% da população com maiores recursos e o rendimento dos 20% da população com mais baixos recursos, correspondia a 6,0 em 2012, face a valores de 5,8 em 2011 e 5,7 em 2010. Por outro lado, de acordo com o rácio S90/S10, o rendimento monetário líquido equivalente dos 10% da população com maiores recursos era 10,7 vezes superior ao rendimento monetário líquido equivalente dos 10% da população com menores recursos (10,0 em 2011 e 9,4 em 2010).

10,9% da população em privação material severa em 2013

Os indicadores de privação material1 baseiam-se num conjunto de nove itens relacionados com as necessidades económicas e de bens duráveis das famílias, cujo elenco se encontra na nota metodológica. São calculados três indicadores diferentes: O indicador geral de privação material, que corresponde às situações em que não existe acesso a pelo menos três destes nove itens; A intensidade da privação material, ou seja, o número médio de itens em falta para esta população em privação material; O indicador de privação material severa, que corresponde às situações em que não existe acesso a pelo menos quatro dos nove itens. Em 2013, 25,5% dos residentes em Portugal viviam em privação material, mais 3,7 p.p. face ao ano anterior (21,8%). A intensidade da privação material mantevese constante comparativamente ao ano anterior (3,6). No mesmo ano, 10,9% da população residente enfrentou uma situação de privação material severa, vivendo em agregados familiares sem acesso a 4 ou mais itens, que comparativamente ao ano anterior (8,6%) se agravou em 2,3 p.p.. De entre os itens que concorrem para o cálculo da privação material, destaca-se que: 59,8% das pessoas viviam em agregados sem capacidade para pagar uma semana de férias por ano fora de casa; 43,2% das pessoas viviam em agregados sem capacidade para assegurar o pagamento imediato, sem recorrer a empréstimo, de uma despesa inesperada próxima do valor mensal da linha de pobreza; e 28,0% das pessoas viviam em agregados sem capacidade para manter a casa adequadamente aquecida.

A carga mediana das despesas em habitação manteve-se em 12,9%

Com base na taxa de sobrelotação da habitação, que compara o número de divisões disponíveis com a dimensão e composição da família, estima-se que 11,4% das pessoas viviam com insuficiência de espaço habitacional em 2013. A consideração simultânea de uma condição de sobrelotação e de pelo menos uma insuficiência relativa a instalações de higiene (WC; equipamento de banho ou duche), a luz natural insuficiente ou a problemas de humidade do alojamento, permite concluir que 5,7% das pessoas se confrontaram com condições severas de privação habitacional em 2013. A carga mediana das despesas em habitação e a taxa de sobrecarga das despesas em habitação são indicadores baseados no rácio entre as despesas anuais com a habitação e o rendimento disponível (deduzidas as transferências sociais relativas à habitação)2; permitem avaliar a importância dos custos associados ao acesso e utilização da habitação no rendimento disponível dos agregados familiares. A carga mediana das despesas em habitação foi de 12,9% em 2013, valor idêntico ao do ano anterior. Define-se como sobrecarga das despesas em habitação as situações em que o rácio entre as despesas anuais com a habitação e o rendimento disponível (deduzidas as transferências sociais relativas à habitação) é superior a 40%. De acordo com o inquérito realizado em 2013, 8,2% da população vivia em agregados com sobrecarga das despesas em habitação.

Aumentou a população em risco de pobreza ou exclusão social

A estratégia económica de crescimento da União Europeia para a década corrente, designada estratégia Europa 20203, define, entre outros objetivos, a redução do número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social na União Europeia em, pelo menos, 20 milhões até 2020. Neste âmbito, definiu-se um indicador relativo à população em risco de pobreza ou exclusão social que conjuga os conceitos de risco de pobreza relativa - pessoas com rendimentos anuais por adulto equivalente inferiores ao limiar de pobreza e de situação de privação material severa, com o conceito de intensidade laboral per capita muito reduzida. Consideram-se em intensidade laboral muito reduzida todas as pessoas com menos de 60 anos que, no período de referência do rendimento, viviam em agregados familiares em que as/os adultas/os entre os 18 e os 59 anos (excluindo estudantes) trabalharam em média menos de 20% do tempo de trabalho possível. A proporção da população com menos de 60 anos que vivia em agregados familiares com intensidade laboral per capita muito reduzida foi de 12,2% em 2012, mais 2,0 p.p. face ao valor de 2011 (10,1%). De acordo com o inquérito realizado em 2013, a proporção da população em risco de pobreza ou exclusão social pessoas em risco de pobreza ou vivendo em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida ou em situação de privação material severa era de 27,4%, constatando-se um aumento de mais de 2 p.p. face ao valor de 25,3% no ano anterior.

O módulo sobre privação material, realizado em 2009 e 2013, indica que se reduziram algumas dificuldades económicas


O EU-SILC estabelece a recolha periódica de variáveis específicas relacionadas com a temática das condições de vida, habitualmente designado módulo ad hoc. Em 2013, o tema foi a Privação material, repetindo o tema de 20094. De acordo com este módulo, 20,5 % da população com mais de 15 anos referiu em 2013 não ter possibilidade de substituir a roupa usada por alguma roupa nova (excluindo roupa em segunda mão) por dificuldades económicas, registando-se um aumento de 3,4 p.p. face a 2009 (17,2%). A falta de dois pares de sapatos de tamanho adequado (incluindo um para todas as condições meteorológicas) pela mesma razão foi referida por 2,4% da mesma população em igual período (5,7% em 2009). Em 2013, as mesmas dificuldades económicas foram o motivo indicado por 15,3% das pessoas para não se encontrarem com amigos ou familiares para uma bebida ou refeição pelo menos uma vez por mês, por 21,0% para não participarem regularmente numa atividade de lazer e por 18,9% para não gastarem semanalmente uma pequena quantia de dinheiro consigo próprias, registando-se uma melhoria face aos resultados de 2009 (em que 19,0%, 22,5% e 21,5%, respetivamente, não tinham condições económicas para realizar as referidas atividades). Em 2013, 10,1% da população não dispunha, em casa, de acesso à internet para uso pessoal por razões económicas. Por outro lado, 70,4% das pessoas referiram não utilizar regularmente transportes públicos, mas apenas 1,9% não o faziam por os bilhetes serem demasiado caros. Quase metade da população que não usava regularmente transportes públicos (49,1%) indicou como motivo a preferência pelo uso de um meio de transporte privado. O módulo sobre privação material recolheu também informação sobre a impossibilidade de satisfação de necessidades básicas, educativas e de lazer das crianças (de 1 a 15 anos) devido a dificuldades económicas, observando-se uma melhoria genérica das condições das crianças relativamente a 2009: 2,2% pertenciam a famílias que referiram não conseguirem assegurar pelo menos uma refeição diária de carne ou peixe (ou equivalente vegetariano) para as crianças (4,9% em 2009); 1,4% não comiam fruta e legumes pelo menos uma vez por dia (4,3% em 2009) 14,3% não podiam ter a roupa usada substituída por alguma roupa nova (excluindo roupa em segunda mão) (14,1% em 2009); 2,4% não tinham dois pares de sapatos de tamanho adequado (incluindo um par de sapatos para todas as condições meteorológicas) (4,7% em 2009; 42,0% não tinham pelo menos uma semana de férias por ano fora de casa (47,4% em 2009). Ao nível das necessidades educativas, 5,4% das crianças com 1 a 15 anos não tinham em casa livros adequados à sua faixa etária (12,3% em 2009). Para as crianças que estavam a frequentar a escola, 7,4% não dispunham de espaço apropriado ao estudo e à realização dos trabalhos de casa (14,0% em 2009) e 12,1% não podiam participar em viagens e eventos escolares não gratuitos (13,0% em 2009). Também por dificuldades económicas, 24,0% das crianças não participavam numa atividade extracurricular ou de lazer de forma regular (natação, música, aprendizagem de línguas, organizações de juventude, etc.), face a 27,3% em 2009. A falta de condições económicas impedia a celebração de ocasiões especiais para 7,3% das crianças (aniversários, dias comemorativos, festas religiosas, etc.) e 13,1% não podiam convidar de vez em quando amigos para brincarem ou comerem juntos (11,7% e 20,0%, respetivamente, em 2009). A consideração simultânea dos 18 itens de privação que afetam as crianças (13 itens específicos para as crianças e 5 itens relativos aos agregados familiares a que pertencem), permite uma perspetiva da severidade da privação material infantil. A falta de pelo menos três itens afetava 45,7% das crianças, e a falta de pelo menos cinco itens atingia 27,3%. (fonte: INE)