Segundo
o Económico, “Mark
Blyth, professor de Economia Política, e autor do livro "Austeridade - uma
ideia perigosa", lançado hoje em Portugal, disse à Lusa que os cortes
orçamentais anunciados pelo Governo de Passos Coelho não servem para nada. "[Os
cortes orçamentais] São totalmente inúteis. O problema é a forma como os bancos
portugueses e a economia portuguesa estão agarrados a um sistema monetário que
tem um banco central mas não dispõe de um sistema de coleta de impostos (a
nível Europeu) capaz de resolver o problema. Podem espancar a despesa pública
portuguesa até a rebaixarem a 'níveis neolíticos'. É como instalar uma
instituição bancária na Idade da Pedra. Não resolve o problema. O que estão a
fazer é totalmente inútil", disse à Lusa Mark Blyth a propósito dos cortes
orçamentais anunciados pelo Governo português. O escocês Mark Blyth, professor
de Economia Política no departamento de Ciência Política da Universidade de
Brown, em Providence, Estados Unidos, é autor do livro "Austeridade - uma
ideia perigosa" em que defende que as medidas drásticas não são adequadas
para a solução da crise económica.
"Quando tudo começou a arrebentar
em 2007 e 2008 ficámos a saber tudo sobre as fragilidades das economias do sul
da Europa, mas também sobre o elevado nível de endividamento do sistema
bancário e que esteve escondido durante mais de uma década", disse o
académico, sublinhando que as medidas impostas pelos governos dos países
expostos à crise não fazem sentido porque apenas servem o sistema bancário em
crise.
"O que são necessárias são
políticas - caso contrário - a mobilidade laboral vai tentar afastar o problema
justificando-a como uma medida económica afastando as pessoas com qualificações
que simplesmente vão abandonar os países. E depois quem paga os
impostos?", questiona Mark Blyth, recordando que na Irlanda milhares de académicos
já abandonaram o país. Para o professor de Economia Política, pressionar o
sistema com austeridade "como se fosse um estilo de vida" só pode dar
maus resultados e a crise não pode ser solucionada enquanto se tenta resolver,
"ao mesmo tempo", uma crise bancária "através de reformas
governamentais, porque uma coisa não tem nada que ver com a outra". "A
austeridade é uma forma de deflação voluntária em que a economia se ajusta
através da redução de salários, preços e despesa pública para 'restabelecer' a
competitividade, que (supostamente) se consegue melhor cortando o Orçamento do
Estado, promovendo as dívidas e os défices" (página 16), escreve Blyth no
livro "Austeridade - uma ideia perigosa", realçando que não se
verificam à escala mundial casos que tenham sido solucionados com políticas de
austeridade.
"Os poucos casos positivos que
conseguimos encontrar explicam-se facilmente pelas desvalorizações da moeda e
pelos pactos flexíveis com sindicatos (...) A austeridade trouxe-nos políticas
de classe, distúrbios, instabilidade política, mais dívida do que menos,
homicídios e guerra" (páginas 337-338), escreve o autor.
"Mas também é uma ideia perigosa
porque o modo como a austeridade está a ser apresentada, tanto pelos políticos
como pela comunicação social - como o retorno de uma coisa chamada 'crise da
dívida soberana' supostamente criada pelos Estados que aparentemente 'gastaram
de mais' - é uma representação fundamentalmente errada dos factos",
defende Blyth. Como alternativa, o autor da investigação defende a
"repressão financeira" assim como um esforço renovado na coleta de
impostos "sobre os mais ganhadores", a nível mundial, assim como a
procura de riqueza que se encontra "escondida em offshores" e que os
Estados "sabem" onde está. "Na verdade, um novo estudo da Tax
Justice Network calcula que haja 32 mil biliões de dólares, que é mais duas
vezes o total da dívida nacional dos Estados Unidos, escondidos em offshores,
sem pagar impostos" (página 358), conclui Mark Blyth no livro
"Austeridade - A história de uma ideia perigosa" (editora Quetzal,
416 páginas)"