terça-feira, setembro 10, 2013

Coreia do Norte: Jee Heon-a viu uma mãe ser obrigada a afogar o seu recém-nascido

Li no Publico que “a Comissão das Nações Unidas ouve histórias de horror dos campos-prisão norte-coreanos: "A ONU tentou pressionar de vários modos a Coreia do Norte e este é um modo de aumentar um pouco a pressão". Execuções e tortura pública são acontecimentos diários nas prisões norte-coreanas, segundo testemunhos dramáticos a um painel da ONU que começou ontem na capital sul-coreana, Seul. Sobreviventes contaram histórias terríveis: como os guardas cortaram um dedo a um, como comiam sapos salgados ou mesmo como obrigaram uma mãe a matar o seu próprio bebé. A Coreia do Norte nega que sejam cometidos quaisquer abusos e recusa-se a reconhecer a comissão das Nações Unidas ou permitir que os seus inspectores visitem o país. "Não fazia ideia do que me iam fazer. Pensei que iam cortar a minha mão inteira, pelo pulso, portanto fiquei grato por apenas terem cortado um dedo", contou na sala de audiência Shin Dong-hyuk, castigado por ter deixado cair uma máquina de costura. Nascido numa prisão chamada Campo 14 e obrigado a ver a execução da sua mãe e irmão, Shin é o mais conhecido desertor, e sobrevivente, da Coreia do Norte. Na audiência, disse acreditar que o painel da ONU era a única maneira de melhorar os direitos humanos no Estado isolado e empobrecido. "Porque o povo norte-coreano não pode insurgir-se com armas como na Líbia ou na Síria, penso pessoalmente que este é a única esperança que resta", disse Shin. Haverá 150 mil a 200 mil pessoas nos campos-prisão norte-coreanos, e desertores dizem que os presos estão subnutridos ou são obrigados a trabalhar até à morte. Depois de mais de um ano e meio à frente do Governo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, 30 anos, não mostrou grandes sinais de querer mudar o rígido regime do seu pai, Kim Jong-il, ou avô, Kim Il-sung, o fundador da Coreia do Norte. Já Jee Heon-a, 34 anos, contou à comissão como desde o primeiro dia da sua prisão, em 1999, descobriu que sapos salgados eram uma das poucas coisas que havia para comer. "Os olhos de toda a gente eram encovados. Pareciam todos animais. Tinham sapos pendurados nas roupas, em sacos de plástico, sem pele", conta. "Comiam sapos salgados, e eu também". Falando suavemente, descreveu como viu uma mãe ser forçada a matar o seu bebé recém-nascido. "Era a primeira vez que via um recém-nascido, por isso senti-me feliz", disse. "Mas de repente ouviram-se passos e um guarda veio e disse à mãe para pôr o bebé de cabeça para baixo numa tigela de água. A mãe pedia para ele a poupar, mas o guarda só lhe batia. Por isso a mãe, com as mãos a tremer, pôs a cara do bebé na água. O choro parou e uma bolha surgiu na água quando ele morreu. Uma avó que tinha ajudado no parto levou-o."
Dura de roer

Poucos peritos esperam que a comissão tenha um impacto imediato na situação dos direitos humanos, ainda que vá servir para dar publicidade a uma campanha que tem pouca visibilidade globalmente. "A ONU tentou pressionar de vários modos a Coreia do Norte e este é um modo de aumentar um pouco a pressão", disse Bill Schabas, professor de Direito Internacional na Universidade britânica de Middlesex. "Mas é óbvio que a Coreia do Norte é dura de roer e o que a ONU pode fazer é limitado. Era necessário que houvesse mudanças profundas na Coreia do Norte para se avançar no campo dos direitos humanos." Mas não parecia haver muito interesse pela questão no local onde decorreu a audiência, em Seul. Apenas umas poucas dezenas de pessoas, incluindo jornalistas, assistiram à audiência numa universidade no centro da cidade. Os desertores são largamente ignorados na Coreia do Sul e levam uma existência de empregos pouco qualificados, se conseguirem algum, de acordo com dados oficiais. Reuters”