Diz o Dinheiro Vivo que “a riqueza produzida em
Portugal cresceu 1,1% no segundo trimestre deste ano, relativamente aos
primeiros três meses. Este crescimento resulta em parte de uma queda menos
acentuada no consumo privado, havendo bons indícios no comércio a retalho e nas
despesas das famílias. A recuperação na venda de automóveis é um bom exemplo.
Mas o consumo será o caminho ideal para a recuperação da economia? As famílias,
que têm poupado mais, só vão decidir quando conhecerem a dose de austeridade a
aplicar em 2014.
“Enquanto as taxas de juro da dívida pública se
mantiverem em níveis elevados, nomeadamente a relativa às obrigações do Tesouro
a 10 anos, que anda pelos 6,5%, isso significa uma capacidade limitada de auto
financiamento por parte dos bancos e, logo, o crédito concedido aos
particulares é sempre caro, refreando o consumo”, afirma Pedro Cosme Costa
Vieira, professor da Faculdade de Economia do Porto. O Banco de Portugal
confirma que o crédito às famílias caiu 12,3% em junho face ao mês anterior.
Por outro lado, a taxa de juro em novas operações de crédito ao consumo está
quase nos 10% e a praticada para outros fins nos 6%, descendo para 3,2% na
habitação (Euribor mais spread).
No entanto, há pequenos indícios de que o consumo está
a recuperar ou pelo menos a atenuar a queda. O Boletim Económico de Verão do
Banco de Portugal dá conta de uma queda de ‘apenas’ 4,3% no consumo privado -
que pesa 66% no PIB - ao longo do primeiro trimestre, valor inferior a todas
quebras trimestrais verificadas em 2012. Ainda não se conhecem pormenores sobre
os fundamentos do crescimento em cadeia de 1,1% no segundo trimestre, mas
sabe-se que nos primeiros três meses do ano o PIB caiu 4% em termos homólogos
(corrigido para -4,1% pela estimativa rápida do INE conhecida esta semana),
tendo as exportações líquidas contribuído com 2,3% positivos e a procura
interna (consumo público e privado) com -6,4% (-7,2% no trimestre homólogo), e
que o peso da despesa do Estado no PIB é de apenas 18%.
“Eu desejo que o consumo não aumente. Seria a prova de
que os padrões de comportamento não foram reformulados. Repare-se que o aumento
da poupança está já a alterar o paradigma do endividamento ligado ao consumo.
Nós só queremos mais consumo se este indicador for associado a maior produção e
investimento”, afirma João Cantiga Esteves, professor do ISEG. No segundo
trimestre, o índice no comércio a retalho diminuiu 2,7% em termos homólogos,
contra -4,9% nos primeiros três meses. Adicionalmente, a quebra de 4,3% nas
despesas de consumo final das famílias, entre janeiro e março, segue-se a um
recuo de 5,3% nos últimos três meses de 2012, não deixando de ser significativo
o facto de a quebra nos bens duradouros ter passado de -20,7% para -7,5% no
arranque deste ano. E um bom exemplo de bem duradouro é o automóvel. Entre
janeiro e julho foram vendidos mais 4% de carros face ao mesmo período do ano
passado. Mesmo que grande parte dos carros comercializados não tenham como
destino o consumidor final; foram parar às empresas de rent-a-car, que estão a
renovar as suas frotas. O veto do Tribunal Constitucional ao corte dos
subsídios de Natal e férias dos funcionários públicos e pensionistas teve o
efeito prático de recuperar em 2013 o rendimento que tinha sido perdido em
2012. No entanto, o Orçamento do Estado deste ano levou a um aumento do IRS,
por via da diminuição dos escalões e da imposição de uma sobretaxa de 4%, não
se sabendo qual será o grau de austeridade imposto pelo Orçamento a aplicar em
2014. As negociações com a troika vão decorrer em setembro e os cortes
resultantes da reforma do Estado poderão chegar a um montante de 3,2 mil
milhões de euros”.