terça-feira, abril 23, 2013

Opinião pessoal: "O TC e a propaganda"



"Confesso-vos que temo, sobretudo quando o governo de coligação anunciar o pacote de novas medidas de contenção orçamental – que ou serão de austeridade ou de perda de direitos – destinadas a colmatar o buraco de 1,3 mil milhões de euros, decorrente do acórdão do Tribunal Constitucional, que os portugueses, desmotivados e desmobilizados como estão, comprovadamente descrentes do seu futuro, temerosos pelo dia de amanhã, sem segurança no trabalho, a braços com um desemprego nunca antes visto, mergulhados numa conjuntura depressiva perigosa e atirados para uma escalada de empobrecimento galopante que devia envergonhar qualquer poder bandalho, se virem contra o Tribunal Constitucional.
De facto, influenciados pela sectária e incompetente propaganda e por uma série de comentadores económicos submissos (para não usar outra expressão) das teses oficialistas, temo que os cidadãos, amedrontados pelas ameaças, pressões e chantagens deste desprezível governo de coligação bandalho que temos, claramente apostado em vingar-se da decisão do TC, responsabilizem esta instituição e não a desastrosa e incompetente política governamental pela situação de austeridade agravada ou de perda de rendimentos, ou pela eventual degradação da crise.
Tenho ouvido diversos comentários de cidadãos normais, segundo os quais, depois das ameaças anunciadas pelo governo de coligação, melhor seria que os juízes tivessem ficado quietos porque agora vai piorar por culpa do acórdão deles! Será que as pessoas se esqueceram -primeiro exemplo da distorção desta discussão – que o Tribunal Constitucional existe para defender a Constituição e que, concorde-se ou não com a sua existência, pelo menos enquanto existir é sua principal tarefa impedir que as pessoas espezinhem o texto constitucional, a nossa primeira lei, permitindo-se que abusivamente, como tem feito este desprezível governo de coligação, se pense que tudo é possível e que, tal como numa ditadura fascista ou comunista à moda antiga, tudo é permitido e resta ao povo como e calar? Será que as pessoas se esqueceram - segundo exemplo da distorção desta discussão – que o Tribunal Constitucional se limitou a emitir opinião, por via de um acórdão, porque alguém, entidades públicas, partidos, deputados ou outros, solicitaram a verificação da constitucionalidade de normas do Orçamento de estado para 2013?
O problema é que os anunciados cortes da despesa do Estado, para além de poderem significar, e temo que assim seja, uma hecatombe social de dimensão e impacto imprevisíveis, vão ainda gerar muitos mais dramas sociais e, por causa disso, muita revolta. A verdade, volto a repetir, escondida pelos bandalhos do costume, é que todos esses cortes na despesa do Estado há muito que estão negociados e definidos por este governo de coligação, que os mantem secretos há pelo menos desde Outubro do ano passado, por temer – e tem sobejas razões para isso... – o aparecimento de manifestações e revoltas populares na rua que poderão gerar instabilidade e obrigar a uma intervenção por parte de quem tem responsabilidades acrescidas para o fazer mas infelizmente prefere comportar-se como um dispensável monarca sentando no trono dourado a brincar com o iPAD ou a jogar game boy.
Aliás, seria bom que os portugueses tivessem presente que, ao que tudo indica, corremos o risco de constatarmos que muitos desses cortes na despesa pública, pelo menos até que se altere convenientemente muitas das disposições constitucionais vigentes, correm o risco de roçar a inconstitucionalidade. Nessa altura, verei então se os portugueses, com as calças na mão, vão ou não apelar aos juízes do Tribunal Constitucional que travem a descontrolada cegueira fascista deste governo de coligação salazarista impropriamente designado de ultraliberal. Nessa altura veremos então quem zelará pelo cumprimento da Constituição e se afinal vale mais a libertinagem do governo de coligação ou o respeito pela constitucionalidade das leis.
Mais, ficarei aa espera para saber se a Assembleia da República se dignará, uma vez mais, porque a isso foi obrigada por força da ditadura da maioria instalada em São Bento, a fazer a triste figura de aprovar legislação – como já aconteceu diversas vezes – independentemente do facto de saber que a mesma sofre de inconstitucionalidade posteriormente comprovada, ou se se comportará com a dignidade que se exige a órgãos de soberania democraticamente eleitos. Não estamos nem num regime totalitário, não estamos de regresso ao fascismo, não estamos num regime de partido único e de ditadores incompetentes e impreparados que na realidade não passam de meros funcionários ou da banca ou de estranhas teias de empresas privadas a braços com processos judiciais ainda em curso.
Enquanto isso, ficou-se a saber que o PSD nacional - entregue a um gangue de oportunistas, que tomaram de assalto o partido para, através dele, chegarem ao poder no cumprimento de uma missão alegadamente "messiânica" mas essencialmente ideológica à vista de todos - resolveu instaurar um processo disciplinar aos 4 deputados da Assembleia da República eleitos pela Madeira e aos 3 deputados social-democratas eleitos pelos Açores. Já nem sequer falo do facto de estarmos a falar de um ex-Presidente do Governo Regional dos Açores e ex-Presidente da Assembleia da República (Mota Amaral) ou de um actual Vice-Presidente da Assembleia da República e antigo líder parlamentar do PSD no parlamento nacional, Guilherme Silva. Nem sequer recordo que estamos a falar de um ex-secretário de estado (Correia de Jesus), de um dos mais experimentados deputados e durante anos um dos porta-vozes do PSD no parlamento para as questões jurídico-financeiras mais complexas, Hugo Velosa ou de um experimentado deputado social-democrata dos Açores, Joaquim da Ponte. Tão pouco recordo que a estes nomes se juntam duas jovens estreantes, a madeirense e antiga dirigente da JSD, Cláudia Aguiar e a açoriana e jornalista Lídia Bulcão (ambas deputadas desde Junho de 2011). Motivo para esta vergonhosa perseguição? Terem votado contra a vergonhosa proposta de lei de finanças regionais, do governo de coligação, e que não passa de um instrumento de descarada roubalheira que não corresponde, apesar das diferenças entre as duas regiões, às expectativas da Madeira e dos Açores no domínio financeiro. Os deputados insulares do PSD, unidos, votaram naturalmente contra tal provocação bandalha mas como nada se vai alterar depois da absoluta perda de tempo que será a discussão na especialidade do diploma, devem obrigatoriamente repetir a mesma votação quando a referida proposta for submetida a votação final.
Para além de não querer perder tempo, porque não ligo a bandalhices, a questionar a legitimidade, a ética e a autoridade moral e política de um partido desfigurado, mantido refém de interesses obscuros e transitoriamente neutralizado por um gangue de oportunistas - até que um dia as bases, em defesa da sua dignidade colectiva, se revoltem e ponham termo a este triste espectáculo que vai destruindo o PSD de Sá Carneiro – é fundamental manifestar a minha total solidariedade pessoal e política aos sete deputados laranjas e pedir-lhes, mantendo-se tudo na mesma, como suspeito que vai acontecer, que repitam a sua votação, pois com ela defenderão estoicamente os interesses das duas regiões e preservarão sobretudo a sua dignidade pessoal e política.
Não posso deixar de lamentar, neste contexto, o comportamento indigno do maçónico e líder parlamentar laranja, Montenegro - se tivesse um pingo de decência e de dignidade política teria obviamente reagido de forma diferente da que fez – responsável por uma vergonhosa perseguição e marginalização forçada dos deputados insulares, já que nem no debate sobre a lei de finanças regionais estas asquerosas ramificações parlamentares da bandalhice permitiram que fossem os deputados das ilhas, como deveria ter acontecido, a participar na discussão. O que não me surpreende, pois além de não estarmos a falar de um partido com dignidade e credor de respeitabilidade, acresce uma sistemática obstaculização de muitos outros deputados privados de uma intervenção política no parlamento mais visível. Para nosso castigo basta-nos as intervenções desse Montenegro que não passam de tristes actos do mais vergonhoso lambe-botismo servilhista" (LFM)