Segundo o jornalista do Económico Pedro Fuarte, "o centro-esquerda teve mais votos, mas foi incapaz de segurar a maioria no Senado. Sem um governo estável, italianos podem voltar às urnas em breve. Os italianos acordaram hoje num país dividido, ingovernável e com um cenário cada vez mais provável de novas legislativas. Após dois dias de eleições - as primeiras desde o início da crise -, as projecções preliminares apontam para que nenhuma coligação política consiga controlar ambas as câmaras do Parlamento, o que deixa a Europa à beira de uma nova crise e a Itália a um passo de seguir as pisadas gregas. Também os gregos foram chamados em 2012, no espaço de meses, a nova ida às urnas após a falta de consenso para criar um governo estável na primeira tentativa. "O cenário sugere que não haverá um governo estável e que teremos de voltar às urnas", afirmou ontem Stefano Fassina, responsável económico da coligação de centro-esquerda dirigida por Pier Luigi Bersani, que terá vencido as eleições para a câmara baixa com 30,5% dos votos, contra 28,1% da coligação de Sílvio Berlusconi (PdL). Mas mesmo se se aliar com o ex-primeiro-ministro Mário Monti, Bersani falha a maioria no Senado, cujos 315 membros são escolhidos a nível regional. Na câmara alta do parlamento, Berlusconi e o comediante Beppe Grillo podem agora bloquear todas as tentativas de reformas económicas. Isto significa que não há possibilidade de manter um governo estável que leve a cabo a austeridade tanto desejada por Bruxelas e defendida por Bersani e Monti."Estamos com uma situação ingovernável", lamentou Mario Secchci, candidato da coligação de Monti, citado pela Reuters. Ataxa de participação situou-se nos 75%, ligeiramente abaixo dos 80% registados nas eleições de 2008.
Vencedores e vencidos
Mas se a eleição resultou num impasse a nível nacional, para Beppe Grillo esta foi uma vitória histórica. O seu ‘Movimento 5 Estrelas' conseguiu 25,5% dos votos a nível nacional e tornou-se no maior partido político do país. Os analistas sublinham que a ascensão do político anti-sistema é um sinal do forte descontentamento do eleitorado com a classe política tradicional. Grillo defende que todo o sistema é "corrupto" e, durante a campanha, preferiu a Internet enquanto evitava entrevistas à televisão e jornais italianos. Se Grillo surgiu como uma força política que não pode ser ignorada, o ex-primeiro-ministro Mário Monti, autor das reformas orçamentais e candidato preferido dos mercados, saiu derrotado, com a sua coligação de moderados a ficar com 10,5% dos votos, o que é também uma derrota para a Europa. "Com estes resultados, entre 55 a 60% dos italianos votaram brutalmente contra o euro, a União Europeia, [a chanceler alemã] Merkel e a Alemanha", constata Enrico Letta, dirigente da coligação de centro-esquerda, citado pela Reuters"