sexta-feira, janeiro 04, 2013

FMI errou ao calcular efeito recessivo dos cortes orçamentais!!!

Li no site da RTP que "o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Olivier Blanchard, voltou a apontar a existência de um erro nos multiplicadores usados pelo fundo para calcular o impacto recessivo das políticas de austeridade. Os novos cálculos de Blanchard detectam um erro ainda maior do que o alarme também lançado por ele em outubro sobre o mesmo tema. Num documento de trabalho assinado conjujntamente com um outro economista do Fundo, Daniel Leigh, Blanchard admite agora que o multiplicador de 0,5 utilizado em todas as projecções do FMI possa pecar grosseiramente por defeito.
Vários erros num só
Do ponto de vista metodológico seria errado usar um mesmo multiplicador para todas as projecções de todos os países - e no entanto tem sido essa a tendência dominante do FMI. Também desse mesmo ponto de vista metodológico, constituiria um erro grave o de usar sistematicamente um multiplicador, sem indicar exactamente qual é, e sem assumir a sua utilização. Do ponto de vista material, erra-se em tomar implicitamente como base de trabalho um multiplicador de 0,5, quando na verdade o mais próximo da realidade pareceria ser um de 1,5. Já em outubro de 2012 Blanchard manifestara, na World Economic Outlook (WEO) publicada pelo Fundo, idênticas reservas ao método e ao conteúdo daqueles estudos. Mas nessa altura falava ainda de um desvio menos grave: em vez do multiplicador de 0,5, dever-se-ia ter assumido como base dos cálculos - dizia - um multiplicador situado algures entre 0,9 e 1,7.
Na WEO afirmava que "a investigação da equipa do FMI sugere que os cortes orçamentais tiveram efeitos multiplicadores de curto prazo no produto maiores do que se esperava". Daí concluía que se subestimara os efeitos recessivos das políticas de austeridade, a partir da análise do comportamento de 28 economias desenvolvidas.
Já com este cálculo Blanchard concluía então que o FMI cometera os maiores erros, logo seguido da Comissão Europeia. As afirmações do documento agora publicado continuam sem ser doutrina oficial do FMI, mas não deixa de ser significativo que estejam assinadas pelo economista-chefe e director de investigação do FMI. Um "espantoso mea culpa" Blanchard e Leigh não atenuaram as alarmantes hipóteses emitidas em outubro, antes as radicalizaram. Segundo o diário norte-americano Washington Post, trata-se de um "espantoso mea culpa do economista-chefe do FMI sobre a austeridade". E considera que o documento "contém alguns olhares subtis e potencialmente perturbadores sobre o modo como funciona o Fundo" - nomeadamente a constatação de que Blanchard "não conseguiu determinar que multiplicadores os economistas a nível de cada país estão a usar nas suas projecções". Outro erro terá sido o de proceder como se "importantes hipóteses de trabalho sobre a região ainda se mantivessem válidas em tempos de crise". Isto porque um multiplicador baixo, válido para uma economia em crescimento, com taxas de juro normais e um sistema bancário saudável, deixará de poder aplicar-se a partir do momento em que a economia estagne ou se contraia, os juros subam e os bancos entrem em crise.
"Multiplicador"
É o factor que se utiliza para calculcar o impacto de cada euro de corte orçamental. Se se usa um multiplicador de 0,5, conclui-se que cada euro cortado resulta em menos 50 cêntimos de PIB. Se se usa um de 1,5, conclui-se que há um recuo de 1,5 euros no PIB". Leia aqui o "working paper" do FMI