terça-feira, abril 10, 2012

FMI alerta que Portugal não tem estratégia para crescer depois de 2012

Segundo o jornalista do Jornal I, Bruno Faria Lopes, “sem medidas com impacto positivo de curto prazo na economia, até o cenário de estagnação no próximo ano é “incerto”. FMI pede alternativas ao corte da Taxa Social Única No papel, as previsões económicas do FMI estão alinhadas com as do governo português – nas entrelinhas, contudo, os técnicos do Fundo revelam dúvidas sobre a capacidade do país recuperar a partir do próximo ano sem medidas de estímulo de curto prazo. O FMI parece não acreditar que as reformas estruturais tirem o país da recessão num horizonte imediato e alerta o governo para a necessidade de tirar já um coelho da cartola. “Em particular, o governo tem de identificar e adoptar um conjunto de reformas que desenvolvam uma resposta de curto prazo do lado da oferta na economia”, realçam os técnicos do Fundo no terceiro relatório de avaliação do programa da troika. A ausência de medidas, combinada com a austeridade orçamental e o risco que pesa sobre a conjuntura externa, levam o FMI a admitir que a previsão de estagnação de 0,3% para o próximo ano e de recuperação de 2% em 2014 estejam sujeitas a “incerteza”. A existência de sinais claros de recuperação económica é um ponto central para o regresso de Portugal aos mercados de dívida. O FMI tem revelado algum cepticismo sobre a capacidade imediata de Portugal crescer sem medidas extraordinárias de estímulo. No início do programa, o Fundo esperava que o corte na Taxa Social Única (TSU) – um alívio para as empresas exportadoras – desempenhasse o papel de impulsionador da competitividade no curto prazo, enquanto as reformas estruturais demorassem tempo a produzir efeitos. Depois do governo ter deixado cair a medida, por implicar riscos para a execução orçamental, o Fundo continua a insistir que sem alternativas será difícil conquistar crescimento via exportações. “Na ausência destas medidas não esperamos que Portugal recupere no horizonte de previsão [até 2014] a quota de mercado que tem vindo a perder nos últimos anos”, aponta o relatório. O FMI reconhece o crescimento das exportações acima da procura externa subjacente entre 2010 e 2011, mas não espera que o comportamento se mantenha até 2014. Na teleconferência de imprensa no final da semana passada com jornalistas portugueses e estrangeiros, o director da missão do FMI em Portugal moderou o tom crítico do relatório – que denuncia o “pouco progresso em identificar alternativas” ao corte da TSU – apontando que a dificuldade maior nas medidas é conceptual e não de execução. “O mais difícil é identificar as áreas de maior retorno e em que o governo deve investir capital político”, afirmou Abebe Selassie. Numa apresentação em Washington há cerca de um mês, o ministro das Finanças Vítor Gaspar destacou estudos da OCDE e do Banco Central Europeu que atribuem um efeito de longo prazo às reformas estruturais – entre três a cinco anos – de cerca de 5% do PIB. No imediato, contudo, Gaspar admitiu que o governo “não tem uma boa percepção dos impactos” a curto prazo. “É justo dizer que simplesmente não sabemos”, afirmou. Nos mercados financeiros crescem as dúvidas sobre o cenário económico português, com várias casas de investimento a preverem a continuação da recessão em 2013. “Pensamos que o cenário económico será revisto em baixa na próxima reavaliação [da troika] incluindo uma recessão em 2013”, aponta o banco Nomura, numa nota publicada na semana passada. Sem impulso externo e no quadro de uma moeda forte será muito difícil para a economia portuguesa crescer, uma vez que os outros dois motores – o consumo e o investimento – estão afundados sob o peso do ajustamento da troika e das dificuldades de financiamento. Outras dúvidas. O risco que paira sobre o cenário económico é um dos factores que motivam a troika e o governo a admitirem já claramente que Portugal pode não ter condições para voltar aos mercados de dívida no próximo ano. O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho admitiu isso mesmo no sábado. Governo e troika mantêm que o cenário central é o de regresso ao mercado, mas todos (ver ao lado) vão abrindo a porta para um prolongamento da assistência financeira europeia – algo que na comunidade financeira é dado como praticamente certo, naquilo que o FMI classifica no relatório como um tipo de profecia que se cumpre”.

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