quinta-feira, março 01, 2012

Opinião: "Açores, um passo em frente… dois para trás"

"Graça – Acabou-se o ficcional “estado de graça” para os Açores. Do antigo reino da Atlântida até à terra com inúmeros benefícios para o investimento externo, passando pela capacidade de resistirmos à crise, tudo se desmoronou. A Região apresenta uma das mais elevadas taxas de desemprego do país, acima até da média nacional, as quebras nas receitas do turismo são superiores ao restante território e os sectores da Agricultura e das Pescas passam por momentos periclitantes, tendo em conta a quebra de rendimentos dos profissionais destas áreas. As empresas privadas caiem em catadupa, com especial incidência na construção civil e na restauração. A desesperança é enorme entre todos. Já nem se agitam as bandeiras dos Açores e a defesa da Autonomia para disfarçar seja o que for. Estamos mesmo mal. Mas pior do que estar mal, é não sabermos como sair desta situação. Aqueles que nos governaram durante década e meia acusam a crise nacional e internacional da situação e refugiam-se em “desvios padrão”, esquecendo-se de que os nossos indicadores, nomeadamente ao número de desempregados e de turismos são piores do que os nacionais. E agora, para nosso mal, até os Americanos vão reduzir o contingente na Base das Lajes e para um Açoriano obter um visto para este país, terá que ser emitido em Paris… Quando assisto ao meu Governo, ao Governo de todos os Açorianos, numa posição de sem saber o que fazer, com acções reconhecidamente ineficazes, que mais não são do que balões de oxigénio para que as coisas se aguentem mais uns meses, lembro-me repetidamente dos “superavits”, de que os “Açores não são a Madeira”, de que os Açores possuem mecanismos que farão com que a “crise chegue mais tarde e mais suave”, expressões estas que se reportam aos anos de 2009, 2010, 2011… Mais, assistimos todos à remuneração compensatória, medida completamente injusta e desadequada destinada a compensar entre 50 e 100 euros quem auferia uma remuneração mensal acima de 1500 euros, num gasto desnecessário de cerca de 3 milhões de euros. A justificação na altura era de que “não se iria realizar a cobertura de um estádio” e era investido esse dinheiro nas pessoas. A falta que este dinheiro nos faz a todos agora… Por outro lado, só nos faltava vitimizarmo-nos, atitude que não se coaduna com o Presidente do Governo. Então Carlos César tem que ter uma conversa com Passos Coelho? Já não a teve por diversas vezes? Afinal compara-se à Madeira por esta ter recebido verbas avultadas decorrentes do seu programa de ajustamento, mas recusa a necessidade de um programa semelhante para os Açores. Afinal em que ficamos? Estamos ou não mal? Do meu ponto de vista, há que reorganizar todos os sectores da sociedade. Definir estratégias para os sectores reprodutivos da economia. No caso do turismo, é óbvio que não estamos a fazer bem o nosso trabalho. Estamos constantemente a replicar modelos que não se adequam às nossas características. Que tal financiar a visita de técnicos competentes em cada área, em que os “boys” não os acompanhavam (porque normalmente transformam este tipo de viagens de trabalho em autênticos circos), para adquirirem experiência junto de mercados de maior sucesso? A replicação deste procedimento por várias áreas permitiria voltar a reorganizar todo o modelo de desenvolvimento económico e social que temos seguido na nossa Região. Infelizmente já ninguém acredita que os actuais governantes com 16 anos de governação consigam fazer diferente, pelo que teremos que esperar mais uns meses. É, portanto, preciso mudar. É hora de mudar.

Ribeira Grande – Ditos antigos alertavam-nos para “onde há fumo, há fogo”. Realmente nada mais acertado. Lembrei-me imediatamente deste ditado quando vi a notícia de que um dos proprietários dos terrenos contíguos ao futuro hotel da Ribeira Grande, em frente à praia, também quereria investir num empreendimento semelhante, sendo-lhe recusado pela Câmara Municipal do concelho. Afinal, não há coincidências. Mais uma vez os de fora são sempre beneficiados e privilegiados a troco de nada. Ou melhor, a troco de levarem as nossas riquezas, a beneficiarem dos maiores apoios, a usufruírem dos nossos melhores terrenos e infra-estruturas. Temos que acabar com isto. Devolvam aos Açorianos o que é nosso por direito. Tenhamos orgulho no que fomos e poderemos ser. Se tivéssemos esta forma de pensar, de certeza que não estaríamos nesta situação tão má" (texto publicado no Correio dos Açores, de Paulo do Nascimento Cabral, com a devida vénia)

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