Li aqui que "quatro anos depois dos primeiros sinais de crise no mercado de crédito imobiliário subprime, as autoridades norte-americanas decidiram processar os maiores bancos do país pelo seu papel nos acontecimentos que colocaram o sistema financeiro internacional próximo do colapso e lançaram a economia mundial numa das maiores recessões da história. A acção judicial foi anunciada no final da passada sexta-feira pela Federal Housing Finance Agency (FHFA), um dos reguladores federais do mercado financeiro nos EUA, responsável pela forma como funciona o crédito para compra de casa. São 17 os bancos visados, estando incluídos quase todos os gigantes financeiros norte-americanos e alguns europeus, como o Deutsche Bank ou o Royal Bank of Scotland.A FHFA acusa os bancos de terem vendido de forma fraudulenta mais de 200 mil milhões de dólares em pacotes de crédito à Fannie Mae e à Freddie Mac, duas entidades criadas há várias décadas pelo Estado para promover o mercado da habitação. A fraude, segundo a acusação, está na muito fraca qualidade dos créditos vendidos, que era disfarçada através da sua agregação em grandes pacotes de crédito e a sua consequente titularização. Tudo começava com a concessão de crédito por parte de um banco a um comprador de casa. O banco depois juntava vários créditos e criava um activo titularizado que vendia à Fannie Mae e à Freddie Mac. Estas entidades - sob a protecção do Estado - compravam estes títulos esperando obter lucros à medida que os créditos iam sendo pagos pelos consumidor final. O problema começou quando se percebeu que os créditos eram muito pouco seguros, o malparado disparou e, de repente, os activos titularizados (que tinham recebido classificações máximas por parte das agências de rating) perderam quase todo o seu valor. O Estado teve de assumir as perdas da Fannie Mae e a Freddie Mac, passando igualmente a gerir estas entidades. A acção de maior dimensão agora lançada pela FHFA é contra o Bank of America, no valor de 57,5 mil milhões de euros. Logo de seguida, surge o J.P. Morgan, com 33 mil milhões de euros e o Royal Bank of Scotland, com 30,4 mil milhões. Esta tomada de posição por parte dos reguladores foi alvo de dois tipos de críticas. Alguns analistas dizem que surge na pior altura. Neste momento, os bancos já estão a disponibilizar pouco crédito à economia e a ameaça de pagamento de indemnizações elevadas pode piorar ainda mais a situação, contribuindo para colocar a economia novamente em recessão. E há quem assinale a aparente contradição que existe no facto de o Estado, que tem vindo a ser forçado a ajudar financeiramente os bancos, surgir agora a solicitar uma transferência de dinheiro dos bancos no sentido inverso. Também está a ser fortemente criticada a forma como se está a passar a ideia de que a Fannie Mae e a Fredie Mac foram simples vítimas neste processo. Estas duas entidades, que eram detidas por privados mas que contavam com a garantia informal por parte do Estado (que nunca as deixaria cair, como se veio a comprovar), foram, afirmaram ontem vários especialistas do sector, fundamentais na criação dos títulos que adquiriram. Durante vários anos, conseguiram, com este tipo de títulos, lucros avultados. O "esquema" apenas fracassou quando a economia abrandou, expondo a fragilidade dos créditos subprime que tinham sido concedidos”
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