sexta-feira, setembro 09, 2011

O que é feito de si, senhor governador civil?




Segundo o Jornal I, num texto das jornalistas Margarida Videira da Costa e Helena Nunes, "assim que se demitiu, o ex-governador civil de Bragança decidiu "passar três semanas sem fazer nada". Meteu-se num avião e foi passar 18 dias à Índia e ao Nepal. Manuel Malheiro, de Setúbal, aproveitou o desemprego para se transformar, finalmente, num "activista dos direitos humanos a tempo inteiro", enquanto a colega de Évora, Fernanda Ramos, é agora presidente de uma fundação. Outros antigos governadores decidiram reformar-se de vez. E há quem ainda ande a ver de emprego. Quase todos aproveitaram para tirar férias e a maioria voltou ao cargo que ocupava antes de ser nomeado. Com o fim dos governadores civis, o Estado espera agora poupar 3,5 milhões de euros (ver texto secundário). Assim que o primeiro-ministro anunciou a intenção de acabar com o cargo, em Junho, os ex-representantes do governo nos distritos demitiram-se um a um.


Henrique Fernandes, o académico


No dia a seguir à demissão, o governador civil de Coimbra levantou-se mais tarde que o costume. E, confessa, acordou "mais aliviado". É que o Verão era sempre sinónimo de dores de cabeça acrescidas "por causa dos incêndios". Depois decidiu fazer uma road trip pelo Norte. Passou por Guimarães, Porto, Viseu e Braga, "sempre nas Pousadas de Portugal". Há anos que a mulher lhe andava a "chatear a cabeça" e a pedir que tirasse férias. Este ano ela levou a melhor. A seguir ao descanso, Henrique Fernandes voltou à função de professor universitário no Instituto Miguel Torga e vai finalmente acabar a tese de doutoramento, que deixou pendurada há quase 20 anos. No governo civil de Coimbra continuam os cerca de 20 funcionários que antigamente chefiava.


Manuel Malheiro, o activista


Diz que a defesa dos direitos humanos lhe está no sangue, mas só agora é que o ex-governador de Setúbal vai ter tempo para se tornar num "activista a tempo inteiro". Assumiu a presidência da Liga Portuguesa dos Direitos Humanos - Civitas e, aos 71 anos, voltou a inscrever-se na Ordem dos Advogados, depois de ter cancelado a inscrição em 1974.


Fernanda Ramos, a regionalista


Já está a trabalhar: é presidente da Fundação Alentejo - cargo que já ocupava antes de ser governadora de Évora e de que nunca abdicou. Fernanda Ramos, que se define como "completamente regionalista", passou seis anos no governo civil e ocupava os finais de tarde e as noites com a fundação. Os 14 funcionários que comandava - a maioria com 35 anos "ou mais" de serviço - continuam a trabalhar.


General Monge, o pessimista


Tem mais de 50 anos de serviço militar e já estava reformado quando aceitou a nomeação para governador de Beja. Manuel Monge detesta a ideia "inculcada pelos media" de que os governadores fossem "boys do governo", admite que está preocupado com os sete funcionários que deixou órfãos e diz que agora vai gozar a reforma. Mas antes deixa um recadinho: "As pessoas em Lisboa pensam que ninguém vai dar pela falta dos governadores, mas quando chegar o Outono do nosso descontentamento, a altura de grande contestação social, com tumultos, o cargo vai fazer muita falta", avisa.


Jaime Estorninho, o reformado


"Tenho 70 anos e estou no meu merecido descanso", começa por dizer o antigo governador de Portalegre. Já foi bancário e pre sidente da câmara, mas nada se comparou com a experiência no governo civil: "Os últimos seis anos e dois meses foram de uma violência...", confessa. Depois de abandonar o lugar, só voltou ao edifício uma vez, para visitar os nove funcionários do governo civil, que estão "apreensivos em relação ao futuro", garante.


Jorge Gomes, o zen


A primeira coisa que fez assim que se demitiu foi pensar em passar três semanas de férias. Em Agosto foi 18 dias para a Índia e para o Nepal. "Há seis anos que não sabia o que era ter férias no Verão. Estou a sentir-me muito bem, muito tranquilo", desabafa o antigo governador civil de Bragança, que agora é empresário a tempo inteiro e voltou a assumir as rédeas das farmácias de que é proprietário.


Silva Gomes, o militar da GNR


Não há muito a dizer sobre o tenente-coronel da GNR - que regressou ao comando territorial de Faro, onde trabalhava antes de ser nomeado pelo anterior governo. Antes de ser governador civil tinha sido chefe de gabinete do seu antecessor.


Alzira Serrasqueiro, a apressada


A antiga governadora civil de Castelo Branco, casada com o ex-secretário de Estado de Estado do PS Fernando Serrasqueiro, aproveitou para viajar. "Desculpe, mas estou de viagem", limitou-se a dizer, antes de desligar o telefone ao i sem qualquer aviso.


Fernando Moreira, o desempregado


O governador do Porto diz que ainda não pensou bem no que vai fazer. "Mas farei o que um cidadão normal faz: procurar emprego", acrescenta. Licenciado em Filosofia, Fernando Moreira, 50 anos, era relações públicas e também trabalhou na área da gestão de projectos, durante 13 anos, num gabinete de arquitectura. Agora quem manda nos cerca de cinquenta funcionários do governo civil do Porto é a antiga secretária.


José de Carvalho, o médico


Fez 64 anos a semana passada e já foi director, durante quase uma década, do Hospital de Coimbra. O antigo governador de Leiria vai voltar a dar aulas de Medicina na Universidade da cidade dos estudantes. "Era muito aborrecido ouvir dizer que éramos despesistas quando na verdade não o éramos", queixa-se.


Alexandre Chaves, o secreto


Está de férias no Porto, "no merecido gozo das férias", diz o antigo governador de Vila Real. Sobre o futuro, Alexandre Chaves, de 63 anos, não revela muito, porque está em negociações. "E o segredo é a alma do negócio." Quando chegou ao governo civil já estava reformado da função pública, mas agora admite que quer trabalhar "pelo menos mais dois anos".


Santinho Pacheco, o agricultor


Quando pediu a demissão quis voltar a dar aulas de História, mas "as coisas não estão a correr como planeado", confessa o ex-governador da Guarda. Essa possibilidade "ainda está em aberto" e Santinho Pacheco garante que "nos próximos 15 dias vai resolver a vida". Aconteça o que acontecer, vai ter mais tempo para se dedicar às plantações da sua quinta nos arredores de Gouveia - concelho a que, aliás, já presidiu.


Galamba, o chefe de gabinete


Não teve férias este Verão e, pelo andar da carruagem, tão cedo não terá. O antigo governador de Lisboa, António Galamba, 42 anos, é agora é chefe de gabinete do secretário-geral do PS, António José Seguro, que enfrenta este fim-de-semana o seu primeiro congresso como líder do partido.
Os incontactáveis Há cinco ex-governadores civis que não foi possível contactar. É o caso dos governadores de Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Viseu e Santarém”.

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