segunda-feira, maio 09, 2011

Discurso de Sócrates sobre plano da troika caiu mal em Bruxelas

Escreve o jornalista do Económico, Luís Rego que "a declaração pública do primeiro-ministro português em Lisboa na passada terça feira à noite, para "tranquilizar os portugueses" terá surpreendido a Troika com quem tinham acabado de negociar e provocado alguns calafrios aos responsáveis políticos em Bruxelas, pelo "sinal errado" que se enviava aos parceiros europeus que terão de aprovar o empréstimo daqui a uma semana, explicam fontes comunitárias na capital belga. Alguns diplomatas fazem eco desta surpresa com a declaração depois de a terem lido nas agências internacionais. "Surpreende-me que um programa de austeridade que implica perda de soberania seja apresentado como uma vitória negocial", explica uma fonte diplomática de um país conservador. "Não esperava esta ideia [que será menos duro que os outros] mas vamos analisar em detalhe o programa e avaliar se o poderemos aprovar nestes termos", responde outra fonte diplomática ouvida. O presidente da Comissão, Durão Barroso na sexta-feira, também disse que "não é correcto dizer que o programa (português) é mais fácil ou mais difícil do que os outros". Sócrates tinha dito que "conhecendo outros programas (...) e depois de tantas notícias especulativas (...), o meu primeiro dever é tranquilizar os portugueses". Confirmando o efeito potencialmente contraproducente na Finlândia, Timo Kalli, o líder parlamentar do partido do Centro, que era no anterior governo o partido da primeiro-ministro, frisou no dia seguinte que "já ouvimos dizer que o pacote poderá ser mais brando que o que tinha sido previsto". Em Helsínquia, apenas uma minoria de deputados (54 em 200) apoia sem claramente o resgate português, numa altura em que uma comissão parlamentar procura chegar a uma decisão final antes do Eurogrupo de 16 de Maio. Um responsável partidário que acompanha as negociações, pede anonimato para "não dar trunfos" aos eurocépticos, mas reconhece ao telefone que os ecos que vieram de Lisboa na terça à noite "não ajudaram". Responsáveis da Comissão falam de uma "grande perplexidade". "Os políticos esquecem-se que na zona euro não há mensagens para consumo interno", sobretudo "quando se precisa do aval dos outros parceiros para aprovar este pacote". O ministro das finanças holandês Jan Kees de Jager no rescaldo do recente ecofin de Budapeste falou de um programa mais "severo" que serviria de "castigo" pelo facto de Portugal ter demorado tanto tempo a pedir auxílio. Também o futuro primeiro-ministro finlândes, Jyrki Katainen, actual ministro das finanças, já tinha dito no Ecofin que o programa português teria de ser "mais duro" que o PEC IV, exactamente a ideia que o líder português procurou desmontar. José Sócrates reconheceu que "não há programas de assistência financeira que não sejam exigentes" mas de seguida avançou com detalhe todas as medidas que não estariam no programa, algumas delas, tais como o corte do 13º mês e despedimentos na função pública, tinham sido avançadas pelo próprio primeiro-ministro num entrevista de TV como consequência natural da entrada do FMI, após o chumbo do PEC IV no Parlamento. Em Lisboa, o responsável da delegação da Comissão Europeia na Troika, Jurgen Kruger, na conferência de imprensa, fez questão de dizer que, em relação à Grécia, "o programa português não é mais ligeiro em termos de consolidação e em termos estruturais é mais profundo", aludindo à reforma na Justiça por exemplo. Algo que pretendia propositadamente contrariar as palavras ditas pelo primeiro-ministro na terça-feira. "As instituições internacionais reconhecem, portanto, que a situação portuguesa está longe de ser como a de outros países e muito longe de ser como alguns internamente a pretenderam descrever", disse Sócrates na declaração.
Finlândia sem consenso até Ecofin
A comissão parlamentar finlandesa encarregue de decidir sobre o empréstimo a Portugal voltou a fracassar no final da passada sexta-feira a chegar a acordo, tendo mesmo visto o partido do Centro saltar fora das negociações. Kimmo Sasi, o presidente desta Comissão, diz agora que é possível que a Finlândia não tenha tempo para chegar a uma posição comum antes do Ecofin do dia 16 e 17 de Maio. "Isso [um atraso] é bem possível, é claro que o consenso não pode ser obtido com todos os partidos nesta material, o objectivo é ter uma maioria clara". As negociações retomam amanhã. A aliança de esquerda e os nacionalistas, Perus Suomi (verdadeiros finlandeses) querem assumidamente boicotar o resgate. O líder dos Perus Suomi, Timo Soini, saudou as contas do partido dizendo este fim de semana "Portugal tem dividas, os verdadeiros finlandeses não". Ajudar Portugal implica à Finlândia conceder uma garantia de 1,04 mil milhões de euros, apenas activada em caso de incumprimento".

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