sábado, maio 07, 2011

Crise: o que se passa com a Grécia?

Escreve a jornalista Ana Luísa Marques, do Jornal de Negócios, que "um ano após ter recorrido à ajuda externa, a Grécia enfrenta uma grave situação económica, que um duro plano de austeridade não conseguiu resolver. O país poderá ter pela frente uma de três opções: Ou renegoceia a ajuda externa. Ou reestrutura a dívida. Ou, a pior das hipóteses, abandona a Zona Euro. A última hipótese poderá ter sido ponderada pelas autoridades gregas, segundo noticiou esta tarde a revista alemã "Der Spiegel". O alarme soou, rapidamente, na Comissão Europeia, que de acordo com a mesma publicação agendou uma reunião de emergência para esta noite. Não tardaram a chegar às redacções inúmeros desmentidos, tanto da reunião, como da hipótese da Grécia deixar o euro, por parte do Eurogrupo, da Alemanha e das próprias autoridades helénicas. No entanto, ao final da tarde duas fontes da União Europeia confirmaram que está agendada, para esta noite, uma reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro mas que esta não se destina a debater a possível saída da Grécia da Zona Euro mas apenas a reestruturação da dívida.
Prolongar, reestruturar ou sair?
Entre informação e contra-informação, uma coisa é verdadeira: a situação económica e financeira da Grécia é cada vez mais grave. O plano aprovado entre as autoridades gregas e o FMI e a União Europeia, no valor de 110 mil milhões de euros, prevê que o país emita 11 mil milhões de euros de dívida de médio e longo prazo já a partir do primeiro trimestre de 2012. No entanto, com os juros da dívida pública grega a dois anos nos 25,339% e a 10 anos acima dos 15%, no mercado secundário, são poucos os que acreditam que o país consiga voltar ao mercado já no início do próximo ano. Neste contexto, o país poderá ser forçado a tomar uma de três medidas. Tentar renegociar com a União Europeia o prolongamento do prazo do reembolso do empréstimo, actualmente nos 7,5 anos, ou mesmo aumentar o seu valor. A segunda hipótese poderá passar por uma reestruturação da dívida grega, através de um aumento dos prazos de reembolso ou do corte no valor do reembolso. Neste último caso, os detentores de dívida grega receberiam apenas uma percentagem do valor nominal do empréstimo. A possibilidade de uma reestruturação, admitida no mês passado pelo ministro das Finanças, Wolgang Schaeuble, é, no entanto, pouco apreciada pelo Banco Central Europeu (BCE). "Qualquer tipo de reestruturação traria a quebra de obrigações legais. Poderia ter um efeito sistémico ainda mais grave do que a catástrofe do Lehman Brothers", afirmou o membro do BCE, Gonzalez-Páramo. Devido ao programa de compra de títulos de dívida no mercado secundário, lançado no ano passado, o banco central da Zona Euro tem, actualmente, 70 mil milhões de euros em dívida soberana da Grécia, Irlanda e Portugal. Só em dívida grega, o BCE estará na posse de 50 mil milhões de euros, estima o ING. No entanto, nem todos são contra a reestruturação da dívida grega. Além das autoridades alemãs, que pela voz do ministro das Finanças e do conselheiro económico de Angela Merkel defendem esta hipótese, a agência Fitch defende que o país vai precisar de reestruturar a dívida em 2012. Por último, a Grécia poderá optar por abandonar a Zona Euro. O European Economic Advisory Group (EEAG) defende que os credores vão ter que assumir uma perda de 30% do valor total dos empréstimos. Apesar das medidas de austeridade, alerta o mesmo grupo de economistas, o país não vai ter capacidade para reduzir a sua dívida, nem para se financiar nos mercados assim que o prazo do plano de ajuda termine (2013). O EEAG defende que o país tem duas hipóteses: ou lança medidas de austeridade mais duras (como corte gerais nos salários) ou abandona o euro e regressa ao dracma.
Dracma pode desvalorizar 50%
Segundo o "Der Spiegel", a última hipótese poderá já ter sido ponderada pelas autoridades gregas. No entanto, esta possibilidade poderia ter graves consequências para a economia helénica. Segundo dados do ministro das Finanças alemão, divulgados pela revista alemã, uma das primeiras consequências da saída do euro seria a forte desvalorização da moeda grega, que poderia chegar aos 50% e levar a um aumento drástico da dívida. Os cálculos de Schauble indicam, que neste caso, a dívida grega podia atingir os 200% do produto interno bruto. O "Der Spiegel" destaca ainda a questão legal desta decisão. Alguns especialistas defendem que o país teria também que abandonar a União Europeia, caso decidisse deixar a Zona Euro. Ainda assim, caso a Grécia optasse por abandonar o euro, a banca seria um dos sectores mais penalizados. "A mudança de moeda iria consumir toda a base de capital do sistema bancário e os bancos gregos ficariam, rapidamente, insolventes."

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