quinta-feira, setembro 23, 2010

Açores: Presidente do Governo ameaça com "censura"

Segundo o jornalista Manuel Moniz do Diário dos Açores, "no decorrer da sessão parlamentar de ontem, o Presidente do Governo Regional proferiu a seguinte declaração:“Veja-se, por exemplo, para não estarmos sempre a falar dos órgãos de comunicação social públicos – mas tenho essa coragem de falar das coisas –, veja-se por exemplo o jornal Diário dos Açores.Durante estes dias e a propósito desta matéria, todos os dias distribuiu os mais variados insultos aos membros do Governo e outros titulares de cargos políticos.No dia seguinte, esse mesmo jornal inventou que o filho de um membro do anterior Governo tinha sido contratado por mim para o meu gabinete – afinal tinha sido contratado apenas um jovem com o mesmo sobrenome.No dia seguinte inventou que os dirigentes do DREPA iam receber mais 30% por funções que já desempenhavam; afinal vão é receber menos 20% do que recebiam segundo uma resolução antiga do governo do PSD.Há jornais e jornalistas, assim, que merecem a nossa censura e que não são inimputáveis em democracia; nós temos o direito e até o dever de denunciar a mentira e de denunciar a distorção que é metodologicamente organizada para influenciar a opinião pública.”

NOTA DO EDITOR
As acusações do senhor Presidente do Governo são extremamente graves e não podem passar sem um reparo público.É grave, e inédito na nossa Democracia portuguesa, que o detentor de um importante cargo público afirme que um jornal e um jornalista merecem a “censura” por parte do órgão – que, no caso, é o Governo Regional.Censura não é um termo vão e os altos titulares de cargos políticos não usam palavras por acaso. Elas são escolhidas exactamente com um propósito. O que o Presidente queria dizer era exactamente que o Governo deve censurar o Diário dos Açores e o jornalista que tem estado na origem das notícias que ele repudia.Os dias que se aproximam não serão, por isso, fáceis. Depois de já termos sido tacitamente censurados em termos de publicidade institucional, é legítimo entender que a garra governamental se vai apertar ainda mais – e dos seus movimentos iremos dando conta aos nossos leitores!Agora, em relação ao teor das declarações do Presidente:O Diário dos Açores, ao contrário de outros órgãos de comunicação social, não teve medo de publicar este caso. Fê-lo, como é seu timbre, cumprindo todos os preceitos do jornalismo moderno, narrando os factos, as suas consequências e possíveis ilações. Em nenhuma das reportagens que publicamos (na sexta-feira, no sábado, na terça e na quarta-feira) fomos insultuosos em relação a qualquer titular de cargos políticos. Limitámo-nos a narrar os factos – todos os que pudemos apurar, ao contrário de outros que andaram a reboque da carruagem. Cumprimos o nosso papel de informar, pois é para isso que existimos. E desafiamos o Presidente do Governo a provar o contrário!Quando utiliza o caso do alegado filho de Duarte Ponte, o Presidente mostra como é hábil na arte. É realmente um erro (apesar de não ter qualquer importância na narrativa) que ocupa cerca de 5,4% do total de caracteres de um artigo de opinião que é publicado ao sábado. Exacto: um artigo de opinião semanal, que no próximo sábado conterá o devido pedido de desculpas a ambos os nomes citados. Porque talvez o sr. Presidente não saiba, mas sou talvez o jornalista açoriano mais escrupuloso na reposição da verdade quando cometo algum erro (até com o mesmo destaque, imagine). Afirmar que “o Diário dos Açores inventou esta história” é, no mínimo, pouco curial, porque a opinião é um acto pessoal que é respondido exclusivamente pelo seu autor e não compromete a linha editorial do jornal (aliás, exactamente por isso não foi alvo de nenhum “esclarecimento” no Gacs).Quanto à história do DREPA, só lhe posso sugerir que leia o Diário dos Açores mais atentamente e não se fie em demasia em quem o rodeia. O suposto “esclarecimento” foi publicado mesmo ontem, com uma nota do editor em que a questão é posta em pratos limpos – e nada a favor da posição do Governo, que é mesmo incompreensível (gastando dinheiro que pode, e deve, poupar).Quando o Presidente do Governo quiser denunciar alguma coisa que seja publicada no Diário dos Açores, deve fazê-lo com as armas que a Democracia lhe dá: envie-nos o seu Direito de Resposta, que temos todo o gosto em publicar. É assim que se vive em Democracia. Não é fazendo publicar no GACS os seus “esclarecimentos” a um jornal, sem que possamos utilizar o nosso próprio direito de resposta (uma situação que, de resto, convém apurar da sua legalidade). Porque é triste ver um poderoso Presidente do Governo a utilizar todo o seu poder para tentar denegrir e amordaçar o pequenino (e velhinho) Diário dos Açores, chegando ao ponto de sugerir a censura, tão do agrado dos regimes totalitários. Esperava-se mais de quem tem por competência ser o Presidente de todos os açorianos e o garante das liberdades consagradas na Constituição. A partir de agora estaremos ainda mais atentos em relação à forma como a anunciada censura se irá efectivar. Uma coisa é certa: Mais vale Morrer Livres do que em Paz Sujeitos! É o Brazão dos Açores que o diz. Honre-o!".

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