sábado, abril 17, 2010

Prémio Pulitzer, investigação e interesse público: é este o futuro do jornalismo?

"O ProPublica tornou-se o primeiro orgão de comunicação digital a ganhar um prémio Pulitzer. No lançamento foi apresentado como um projecto inovador: uma redacção online sem fins lucrativos que produz reportagens de investigação e de interesse público. É este o futuro do jornalismo? Em Outubro de 2007, num artigo do New York Times onde se apresentava o, na altura, novo projecto chamado ProPublica, chamava-se a atenção para “uma nova aposta no jornalismo” que procurava preencher a lacuna deixada pelos cortes dos jornais no jornalismo de investigação foi, precisamente na categoria de reportagem de Investigação que o artigo do ProPublica, publicado também na The New York Times Magazine, saiu vencedor. A reportagem “The Deadly Choices at Memorial”, sobre um centro hospitalar em Nova Orleães, afectado pelo furacão Katrina, onde alegadamente um médico e alguns enfermeiros injectaram doses letais de drogas em doentes que dificilmente conseguiriam ser retirados do edifício, foi o vencedor ex-aequo na categoria. Para António Granado, professor universitário e investigador na área dos media, esta decisão é “interessante” porque, por um lado, “mostra que a informação recolhida nos sites de Internet tem a mesma credibilidade que outros orgãos de comunicação social. Por outro lado é de lamentar o facto de se estar a perder o jornalismo de investigação nos jornais”. Mas o que é exactamente o ProPublica? Na sua página assumem-se uma “redacção independente e sem fins lucrativos que produz jornalismo de investigação e de interesse público”. Nela trabalham cerca de 32 jornalistas, cujos trabalhos são oferecidos sem qualquer custo a orgãos de comunicação tradicionais. A reportagem vencedora foi uma entre os 138 trabalhos publicados em mais de 3 dezenas de meios ao longo do ano passado.
Os custos não são alheios à produção destes conteúdos. Uma fundação norte-americana estabeleceu um compromisso de financiamente e, ao longo dos últimos 3 anos, o site tem recebido vários apoios. Uma tendência crescente e que e se tem verificado também no desenvolvimento de projectos semelhantes, como o site Spot Us, através do qual a comunidade pode financiar a elaboração de reportagens. O criador deste último projecto, David Cohn, afirmou numa entrevista do ano passado à National Public Radio, que sempre acreditou que o “bom jornalismo era valioso o suficiente para que as pessoas reconhecessem [esse facto] e o comprassem”. Um projecto deste género em Portugal seria positivo, assume António Granado que, no entanto, destaca alguns perigos. “As instituições têm interesses e nada garante que tenham uma agenda escondida”, afirma. Apesar de os meios de comunicação tradicional apostarem cada vez mais nas plataformas online, António Granado considera que tem havido um “investimento tímido” e uma “evolução lenta”. “A qualidade está a melhorar mas os orgãos de comunicação social ainda estão preocupados com o produto inicial (jornais, rádio, televisão, ect)”. No entanto tem consciência de que “todos se estão a deslocar para a web”. Horas antes do anúncio dos vencedores, o investigador Roy J. Harris Jr. enumerou, no Washington Post, alguns prémios já ganhos pelo site ProPublica nos últimos tempos e indicou a importância cada vez maior das colaborações entre os grandes meios de comunicação e estes “novos” sites de jornalismo de interesse público. “Os prémios Pulitzer têm servido de guia para a profissão anteriormente”, afirmou. O prémio atríbuido a “The Deadly Choices at Memorial” em 2010 poderá não ser um caso isolado num futuro próximo
" (fonte: por Rita Afonso e Frederico Batista, no SAPO Notícias)

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