quarta-feira, novembro 05, 2025

Fábricas sem pessoas? Já há empresários que veem chão de fábrica só com máquinas

Aposta na inovação e na automatização de processos pode ajudar empresas a lidar com a falta de mão-de-obra. Ainda assim, a parte criativa será sempre assegurada por humanos, garantem. A aposta na automatização está a mudar o chão de fábrica das indústrias. Mas, serão as máquinas capazes de substituir as pessoas? Há quem admita que, do ponto de vista meramente produtivo sim, mas há funções em que as máquinas ainda não podem substituir as pessoas. Pelo menos para já.

“Consigo ver a minha fábrica totalmente automatizada, sem a presença de humanos“. A declaração é de Paulo Pinto Sousa, diretor de estratégia industrial, tecnologia e projetos da Sonae Arauco, numa mesa redonda no Open Day do CCG/ZGDV, por ocasião do 22.º aniversário do instituto, que decorreu esta segunda-feira, em Guimarães. Apesar de defender que, do ponto de vista tecnológico, a produção pode ser totalmente automatizada, Paulo Pinto Sousa admite que ainda precisa da componente humana. “Fabricamos painéis decorativos, que mudam conforme a influência da pessoa”, realça, notando que “o humano na sua característica adaptativa é insubstituível, pelo menos para já“.

Se para o diretor da gigante industrial, que vende em 70 países e emprega atualmente 2.600 pessoas em Portugal, Espanha, Alemanha, África do Sul, Reino Unido, França, Holanda, Suíça e Marrocos, num total de 23 unidades industriais e comerciais, a produção poderia já ser assegurada por máquinas, para Filipe Oliveira, da Cotec, o problema é outro: “Não vamos ter mão-de-obra“.

“Temos de meter automatismos porque não há pessoas”, lamenta, acrescentando que “não há pessoas para fazer aqueles tipos de trabalho” [na indústria], ou na indústria mais clássica, em que falamos de tempos de aprendizagem, em que a passagem desse conhecimento demorava muito tempo, as pessoas hoje não têm paciência” para esperar, explica.

Perante a escassez de pessoal, o responsável da Cotec reconhece que “a indústria vai ter de fazer esse caminho mais depressa”. Para José Oliveira, da Colep Packaging, independentemente dessas dificuldades, as “pessoas vão continuar a ser fundamentais nas organizações”.

Para Maria João Samúdio, representante do Cluster Produtech, “há a questão criatividade e todo input humano dos modelos de negócio, até questões que estão interiorizadas ao saber das pessoas” que não podem ser substituídas. Dito isto, “trabalhar na indústria cada vez menos é interessante para os jovens”. “Vamos evoluir para recursos humanos muito mais especializados, com know-how das empresas, do que propriamente doutoramentos académicos”, defende.

“Se quero ter inovação preciso de ter pessoas e ter pessoas especializadas”, concorda António Pontes, diretor da Microprocessador. “A aposta tem de ser na especialização para conseguir fazer evoluir o meu negócio”, remata, reforçando que as atividades mais nobres serão a aposta. “Posso ter uma unidade industrial toda automatizada, mas o capital humano será sempre necessário para fazer evoluir o negócio“, defende. Para a Vista Alegre Atlantis, a questão da automatização completa nem se coloca. “Pelo bem da VAA diria que não. Um dos grandes fatores de diferenciação é o hand made, lá se vai o nosso modelo de negócio“, ironiza Cátia Carreira, da Vista Alegre. Mesmo assim, a responsável refere que a empresa está a “automatizar o que é automatizável, o resto não” (Eco online, texto da jornalista Patrícia Abreu)

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