"Porque se anda ainda a passear pelo Governo, o ministro Miguel Relvas, provavelmente para justificar a sua injustificável existência, aproveitou a poeira que o novo Papa levantou para apresentar o seu "plano" para a RDP e a RTP. E teve sorte, porque passou quase despercebido. Vindo de quem vem o "plano" é, evidentemente, absurdo. Guarda e agrava os defeitos do que existia, não acrescenta nada de novo e vai custar ao cidadão comum muito mais do que hoje. Mas com a sanção de Paulo Portas, não admira que Relvas tenha conseguido chegar onde chegou. E, mais do que isso, a Assembleia da República, que não pára de gritar contra o desemprego, deu a este absurdo exercício e "reestruturação" 42 milhões de euros que aparentemente não faziam falta noutros sítios.
Devo começar por uma confissão: a RTP e a RDP não contribuíram em nada para me instruir, divertir ou educar. A RTP, muito em particular, nunca deixou de ser um absoluto deserto. Em 50 anos, só me ficaram alguns debates políticos, meia dúzia de jogos de futebol, uns minutos de Solnado e um ou outro programa de Herman. O resto é uma massa indistinta de inferioridade e pretensão, que, de resto, o público na sua maior parte rejeitou desde que apareceram a SIC e a TVI. Por mim, não consigo compreender a razão que leva o Estado a persistir em apoiar uma empresa que não traz qualquer vantagem a ninguém, que absorve uma quantidade obscena de dinheiro e que ninguém sabe ou pode reformar. Consta que a sua própria existência equilibra o mercado do "audiovisual". Equilibrar o mercado do "audiovisual" será, de facto, uma função do Estado?
Para salvar aquele barco afundado há anos, o sr. Relvas decidiu agora aumentar a contribuição (forçada) com que Portugal inteiro compra um produto que não quer, e diminuir as despesas daquela gerigonça (a RTP e a RDP) pelo método habitual e fácil de pôr na rua funcionários. A RTP África e a RTP internacional (20 milhões de euros) continuam como sempre intocáveis, a pretexto de que são "instrumentos estratégicos" no "mundo lusófono". Que "estratégia" e que "mundo"? O país desconhece. O que o país sem dúvida conhece é a maneira soberana e brutal como neste capítulo o Governo contraria a sua vontade diariamente expressa. Entretanto, o sr. Relvas resolveu encomendar um estudo do "consumidor-cidadão" para descobrir o método mais suave para o fazer engolir este saco de enormidades. Um acto de frivolidade que raia a loucura" (texto de Vasco Pulido Valente, Público, com a devida vénia)