Seria quase impossível que a agenda política na Madeira, a escassos quatro meses das eleições autárquicas de 1 de Outubro, não estivesse totalmente dependente desse facto. Com a particularidade de se multiplicarem este ano candidaturas estruturadas fora do xadrez partidário regional.
Basta olhar as agendas mediáticas dos partidos, sem exceção, que diariamente "inundam" as redações dos meios de comunicação social com informações, comentários, comunicados, até artigos de opinião pessoal, convocatórias, conferências de imprensa sob qualquer pretexto, para se perceber que, ao contrário do que é um sentimento mais ou menos generalizado entre as pessoas - ignorando por completo o ato eleitoral - os partidos, ao invés, estão fortemente condicionados por essas eleições de 1 de Outubro.
Basta olhar as agendas mediáticas dos partidos, sem exceção, que diariamente "inundam" as redações dos meios de comunicação social com informações, comentários, comunicados, até artigos de opinião pessoal, convocatórias, conferências de imprensa sob qualquer pretexto, para se perceber que, ao contrário do que é um sentimento mais ou menos generalizado entre as pessoas - ignorando por completo o ato eleitoral - os partidos, ao invés, estão fortemente condicionados por essas eleições de 1 de Outubro.
Nos meios populacionais mais pequenos - e no caso da
Madeira de forma acrescida, devido ao impato de uma acentuada bipolarização
política que durante décadas marcou a vida política regional, colocando de um
lado o então PSD de Alberto João Jardim e do outro toda a oposição sem que
fosse feita qualquer diferenciação ideológica ou programática entre os que dela
faziam parte - os atos eleitorais são sobretudo disputados nos meios de
comunicação social, numa disputa diária, constante e agressiva pelo maior
espaço mediático.
A Madeira nisso é "exemplar".
Partidos mais pequenos - e tivemos alguns exemplos
recentes aos longo dos anos - conseguiram alguns sucessos eleitorais graças ao
conteúdo da mensagem que veicularam, quer durante as campanhas eleitorais
(incluindo os tempos de antena, no caso das eleições regionais) mas
essencialmente pela forma como habilidosa como geriram o mediatismo concedido e
"aprisionaram" a comunicação social à sua agenda e às suas
iniciativas.
O extinto PND, por exemplo, não tinha sede, não
tinha estrutura dirigente, não tinha qualquer atividade política de contato com
militantes, não contatava com o eleitorado como os demais partidos faziam na
campanha eleitoral demais partidos.
A verdade é que até ser, paradoxalmente, extinto
pelo Tribunal Constitucional por não ter apresentado as suas contas, apesar de
saber da obrigatoriedade de tal procedimento, o PND elegeu um deputado regional
em 2007, que manteve até ser extinto (depois disso, em 2015, o eleito passou a
independente) e ganhou alguma representação autárquica no Funchal.
O ponto mais alto para o PND aconteceu, em termos
autárquicos, em 2013 quando integrou a coligação "Mudança" que viria
a ser vencedora no Funchal, derrotando pela primeira vez o PSD na capital
insular. Contudo o vereador do ex-PND (Gil Canha) durou pouco tempo no cargo
devido a divergências pessoais e políticas com o edil do Funchal, Paulo Cafofo.
Outros partidos de menor dimensão, casos do PAN ou
do MPT, alcançaram a representação parlamentar nas eleições de 2011, facto que
lhes deu estatuto e visibilidade mediática que os empurraram para a referida
coligação. Não era conhecida qualquer atividade política normal mas em 2011 -
que foi de facto um ano "sui generis" em termos políticos na Madeira
- elegeram deputados regionais e foram parceiros da coligação autárquica de
2013 no Funchal.
Hoje tudo mudou. Tanto o MPT como o PAN foram
afastados do parlamento regional em 2015, perderam visibilidade política e
mediática, mantendo apenas alguns eleitos na Assembleia Municipal do Funchal.
Enquanto um (PAN) decidiu extinguir-se porque
pretendia voltar a integrar a referida coligação, não tendo obtido autorização
política da estrutura nacional em Lisboa, o outro (MPT) distanciou-se de Paulo
Cafofo e da sua liderança autárquica e já anunciou que vai concorrer este ano
separadamente.
Sem Jardim
As eleições autárquicas deste ano, na Madeira,
registam a particularidade de serem as primeiras realizadas depois de Alberto
João Jardim ter abandonado a política ativa.
As eleições de 2013 na Madeira, apesar do PSD ter
sido o mais votado - mais de 42 mil votos, 34,8% - representaram o maior descalabro
eleitoral dos social-democratas e de Alberto João Jardim. E é fácil perceber:
apesar de elegerem de 33 membros dos executivos camarários (a oposição elegeu
38),perderam 7 das 11 Câmaras Municipais e várias Juntas de Freguesia.
O principal sinal de que algo poderia estar a mudar
eleitoralmente - depois dos sinais nas regionais de 2011, cuja maioria absoluta
no parlamento regional foi mantida "in extremis" - ficou patente no
facto do PSD de João Jardim, que antes de 2013 tinha a maioria absoluta nas 11
Câmaras Municipais da Madeira, perdeu a liderança em 7 municípios, mantendo
apenas 4 - Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta.
A expetativa reside agora em saber se o PSD regional
- a braços com sinais de divergências internas em vários municípios - conseguirá
recuperar do desaire de 2013, já que Miguel Albuquerque tem repetido que o seu
partido pretende ser o mais votado alcançar o maior número de câmaras para
reassumir a liderança da associação dos municípios da Madeira.
PSD: a primeira
vez que não concorre num município
De facto as eleições autárquicas na Madeira ficam
marcadas, desde já, pela curiosidade do PSD não concorrer em São Vicente
(decisão que está longe de ser consensual), devido à decisão da estrutura
dirigente social-democrata de apoiar a recandidatura das listas de cidadãos
independentes que em 2013 esmagaram o PSD em todas as assembleias de voto do
município nortenho.
Esta é a primeira vez, desde 1976, que os
social-democratas não se apresentam com lista própria num órgão autárquico da
Região.
A história é simples de contar.
Em 2013, devido à imposição, a partir da rua dos
Netos no Funchal (sede regional do PSD) e alegadamente sem diálogo, de um
candidato à Câmara Municipal, um grupo de militantes social-democratas
desvinculou-se do partido e criou una lista de cidadãos que acabaria por
conquistar todos os órgãos autárquicos de São Vicente, deixando o PSD de João
Jardim a uma enorme distância (65% contra 30,1% na Câmara Municipal, 4 eleitos
para a lista de cidadãos contra apenas 1 dos social-democratas). Essa lista
contou com o apoio do PS, do CDS e de outros partidos da oposição que não
apresentaram listas próprias.
Este ano tudo muda. Os "cidadãos" voltam a
candidatar-se a novo mandato, agora com o apoio do PSD - que prescindiu de
apresentar listas próprias no concelho - mas enfrentando os seus
"apoiantes" de 2013, PS e CDS, que se juntam ao PCP e ao Bloco de
Esquerda que há quatro anos tinham apresentado listas próprias.
Outros sinais de dissidência surgidos nas bases
social-democratas e que deram (ou poderão dar) origem a candidaturas
autárquicas próprias. Casos do Porto Moniz (o ex-presidente da Câmara, o
social-democrata Gabriel Farinha quer candidatar-se à frente de um movimento de
cidadãos), do Porto Santo (António Castro, antigo militante do PSD, lidera um
importante movimento e cidadãos que já formalizou a candidatura autárquica na
ilha Dourada) e da Ribeira Brava onde o atual Presidente, Ricardo Nascimento,
vai apresentar candidatura própria, já apoiada pelo CDS, depois de ter sido
descartada uma recandidatura no final do seu primeiro mandato do atual edil.
Sinais de contestação às escolhas institucionais do PSD, na Ponta do Sol e
Santa Cruz não parecem suficientemente organizadas para que candidaturas de
cidadãos possam surgir nos dois municípios.
Calheta (liderada pelo PSD), Santana (CDS) e Machico (PS) são, até hoje, os concelhos mais pacíficos, não se registando quaisquer fenómenos de contestação significativa, passíveis de originarem mais candidaturas fora do ambiente partidário (Económico Madeira)
Calheta (liderada pelo PSD), Santana (CDS) e Machico (PS) são, até hoje, os concelhos mais pacíficos, não se registando quaisquer fenómenos de contestação significativa, passíveis de originarem mais candidaturas fora do ambiente partidário (Económico Madeira)
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