Durante uma breve troca de palavras, que durou
cerca de cinco minutos, responsáveis presentes numa reunião tentaram explicar a
Donald Trump as consequências graves de uma eventual ação militar norte-americana
na Venezuela. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, questionou, em
agosto passado, os seus principais conselheiros se a solução para lidar com a
instabilidade política na Venezuela poderia passar por uma eventual invasão
militar, revelou a agência Associated Press. Segundo a agência noticiosa
norte-americana, Trump fez a pergunta no fim de uma reunião na Sala Oval
(gabinete presidencial na Casa Branca) que tinha sido marcada para discutir as
sanções contra a Venezuela, país liderado por Nicolás Maduro desde 2013 e que
atravessa uma grave crise económica, social e humanitária.
"Com a rápida degradação da Venezuela a
ameaçar a segurança regional, porque é que os Estados Unidos não podem invadir
simplesmente este país conturbado?", disse Donald Trump, de acordo com a
Associated Press (AP) que cita um alto funcionário da administração
norte-americana que teve acesso a esta conversa ocorrida em agosto de 2017. A
sugestão de Trump implícita na pergunta surpreendeu os funcionários presentes
na reunião, incluindo o então secretário de Estado, Rex Tillerson, e o então
conselheiro de segurança nacional, o general H.R. McMaster, referiu a AP. Estes
dois elementos saíram, entretanto, da administração norte-americana.
Durante a breve troca de palavras, que durou
cerca de cinco minutos, McMaster e os outros responsáveis presentes na sala
tentaram explicar a Donald Trump as consequências graves de uma eventual ação
militar norte-americana na Venezuela e de que forma isso poderia significar a
perda do apoio dos governos latino-americanos, importantes para travar a
influência de Maduro na região, disse à AP a mesma fonte, que falou sob
anonimato. Na altura, Trump acabou por acatar as explicações dos conselheiros,
mas sem deixar de apontar casos de invasões norte-americanas naquela região
que, na opinião do próprio, foram bem-sucedidas, como por exemplo no Panamá em
1989. Mas a ideia de derrubar o regime de Maduro através de uma possível ação
militar ainda persistiu na cabeça de Trump. No dia seguinte à reunião na Sala
Oval, a 11 de agosto, Trump fazia declarações públicas que o comprovavam.
"Temos muitas opções para a Venezuela. Não
vou descartar uma opção militar", afirmou na altura, citado pelos 'media'
norte-americanos. "É um país vizinho. Temos tropas em todo o mundo em
locais muito, muito longe. A Venezuela não é distante, as pessoas estão a
sofrer e estão a morrer. Temos muitas possibilidades para a Venezuela,
incluindo a de uma opção militar se necessário", reforçou então. A fonte
citada hoje pela AP relatou ainda que Trump voltou pouco tempo depois a
levantar a questão (de uma eventual invasão) durante uma conversa com o então
Presidente da Colômbia e Nobel da Paz Juan Manuel Santos. Dois altos
funcionários colombianos que falaram sob anonimato confirmaram esta informação.
Um mês depois da reunião na Casa Branca, e à margem da Assembleia-Geral da ONU,
Trump voltou a abordar a questão durante um jantar privado com os líderes de
quatro países latino-americanos aliados dos Estados Unidos, entre os quais
constava Juan Manuel Santos.
O alto funcionário da administração
norte-americana citado pela AP relatou que os assessores disseram
especificamente a Donald Trump para não abordar a questão de uma eventual
invasão da Venezuela, mas a primeira coisa que o Presidente disse no decorrer
do jantar foi no sentido contrário.
"A minha equipa disse-me para não dizer
isto", declarou então Trump, perguntando depois aos líderes
latino-americanos se continuavam a não querer uma solução militar para a
Venezuela. A fonte citada pela AP referiu que todos os líderes presentes
responderam de forma clara a Trump e confirmaram que não queriam uma solução
militar. A Venezuela, país que conta com uma importante comunidade portuguesa,
atravessa uma grave crise económica, social e humanitária que já obrigou
milhares de pessoas a fugirem daquele território, atravessando as fronteiras em
direção ao Brasil e à Colômbia. Em maio passado, as eleições presidenciais
antecipadas na Venezuela, fortemente contestadas pela oposição venezuelana e a
nível internacional, foram marcadas pela reeleição de Nicolás Maduro para um
novo mandato de seis anos, até 2025 (Lusa)
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